O Grupo Carrefour banirá a utilização de sacolas plásticas em toda a sua rede de lojas no Brasil nos próximos quatro anos. O anúncio oficial da decisão, uma das mais expressivas ações de sustentabilidade das grandes redes varejistas no país, será feito no próximo dia 15, na loja do Carrefour localizada em Piracicaba, interior de São Paulo. O evento contará com a presença do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

Segundo o diretor de Sustentabilidade do Carrefour, Paulo Pianez, a decisão vale tanto para as sacolas plásticas entregues ao consumidor quanto para os sacos plásticos utilizados dentro das lojas (por exemplo, para acondicionar frutas ou legumes). E envolve todas as marcas do grupo (Carrefour, Atacadão e Dia%).

“Depois de diversas ações para reduzir o uso das sacolas, chegamos à conclusão de que deveríamos ser mais definitivos nessa questão, adotando uma das medidas mais radicais que o varejo pode adotar, uma vez que afeta diretamente os hábitos do consumidor: o banimento definitivo do plástico”, antecipou Pianez à Folha.

“A utilização das sacolas plásticas é um tema sobre o qual nós, varejistas, somos constantemente questionados pela sociedade. E com razão, dados os impactos da destinação inadequada desse produto. Essa é uma contribuição importante”, afirmou.

Para compensar possíveis impactos negativos da medida em relação aos consumidores, que no caso brasileiro utilizam de maneira intensiva as sacolas plásticas, especialmente como sacos de lixo, o Carrefour oferecerá opções para o transporte das compras, como sacolas retornáveis vendidas a preço de custo e caixas de papelão usadas nas lojas, entre outras.

Em conjunto com a Basf, a empresa também desenvolveu uma sacola plástica com capacidade para até dez quilos feita de material bioplástico 100% degradável. Um produto que, segundo o Carrefour, é totalmente absorvido pela natureza em até 18 semanas (uma sacola plástica comum leva até 300 anos para se decompor).

O diretor acrescenta que a expectativa do Carrefour em relação aos impactos da decisão sobre os consumidores é positiva. “Nossa percepção é que o consumidor já tem maturidade suficiente para entender que ele também tem um papel a cumprir nesse sentido.”

Nos últimos anos, o grupo adotou o banimento dos plásticos em diversos países nos quais opera, como França, Bélgica, Polônia e Espanha.

Para evitar que o consumidor sinta-se prejudicado ao não poder contar com as sacolas plásticas para acondicionar seu lixo doméstico, a rede varejista oferecerá ainda sacos de lixo produzidos com plástico reciclado a um custo subsidiado, além de promover fóruns e palestras com os consumidores para esclarecer o impacto ambiental das sacolas plásticas tradicionais.

Tendência

O banimento das sacolas plásticas no Carrefour é mais um capítulo na acirrada disputa entre as grandes varejistas do país por ações de sustentabilidade, que ganharam fôlego nos últimos anos. O Walmart, por exemplo, vem apostando no engajamento de sua cadeia de fornecedores para criar produtos 100% sustentáveis.

Já o Pão de Açúcar, conhecido pelas ações de reciclagem que promove, ampliou sua rede de “lojas verdes” e também adotou uma série de procedimentos socioambientais. “Essa é uma disputa da cooperação. Quanto mais ações semelhantes, melhor para a sociedade”, conclui o diretor do Instituto Akatu, Hélio Mattar.

Em Washington, lei veta oferta de sacolas gratuitas

Desde janeiro, entrou em vigor em Washington uma lei que proíbe a distribuição gratuita de sacolas plásticas no comércio. Quem não leva sua própria bolsa pode carregar os itens na mão ou pagar US$ 0,05 por sacola.
A lei não se restringe a supermercados e inclui também livrarias, lojas de roupas e de presentes. A expectativa dos grupos ambientalistas é que ela se torne uma referência para os Estados americanos. Esse tipo de lei é a primeira no país, embora San Francisco já tenha proibido as sacolas plásticas.

Dados da Agência de Proteção Ambiental dos EUA apontam para um volume de plástico desperdiçado em 2008 de 3,96 milhões, entre bolsas, sacolas e embrulhos. Menos de 1% desse total foi reciclado.

Grandes redes de varejo nos EUA, como CVS e Target, já começaram a premiar com dinheiro ou créditos a iniciativa de consumidores que carregam suas próprias sacolas reutilizáveis.

Em Nova York, a legislação exige que os varejistas que distribuem gratuitamente sacolas plásticas façam a reciclagem do material. Algumas redes no Estado já cobram pelo uso das sacolas. Em qualquer supermercado de médio porte de Nova York, ao lado do caixa, existem sacolas reutilizáveis disponíveis para venda.

Em Seattle, recentemente o uso de sacolas de papel e de plástico passou a ser desencorajado, com a cobrança de US$ 0,20 por sacola.

Consideradas um símbolo do desperdício no consumo, as sacolas plásticas têm sido culpadas pela poluição nos oceanos e emissão de carbono. A onda de criação de taxas de cobrança pelo uso vem se espalhando em algumas cidades do país desde 2007. O assunto já foi discutido em Estados como Connecticut, Maryland, Massachusetts, Texas e Virgínia.

Folha de São Paulo