Associação dos produtores de cana afirma que falta de competitividade do álcool tende a acabar com o programa

Com menor demanda por álcool, produção ficará estável e faltará estímulo para novos veículos, diz Única

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

Diante da queda de competitividade do álcool em relação à gasolina e da falta de um plano estrutural para o setor, os produtores de cana começam a admitir a possibilidade de o programa flex fuel fracassar, como ocorreu com o Pró-Álcool.
O presidente da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), Marcos Jank, disse ontem que, se não houver mudanças significativas no setor, o consumo de etanol hidratado deve cair ainda mais, diminuindo o interesse dos consumidores e da indústria nos carros flex.
Segundo os dados mais recentes da ANP (Agência Nacional do Petróleo), as vendas de etanol hidratado pelas distribuidoras caíram 22% no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2010.
Em contrapartida, as vendas de gasolina subiram 15% no mesmo intervalo.
“Se não houver alta da gasolina, mudança na Cide [tributo incidente sobre os combustíveis] e redução importante de custos, a produção de hidratado não vai crescer, o consumo dos carros flex vai crescer cada vez menos e vai desestimular a produção dos automóveis flex”, disse.
“Se não fizermos nada pelo hidratado, a tendência é que apenas o anidro cresça”, acrescentou. O etanol anidro é misturado à gasolina, enquanto o hidratado abastece diretamente os carros flex.
O motivo da queda nas vendas do hidratado é o preço. Diante da estabilidade do valor da gasolina no mercado interno, o álcool tornou-se menos atrativo para o motorista -a Petrobras não mexe no preço da gasolina nas refinarias desde 2009.
Na semana passada, era mais vantajoso para o consumidor abastecer seu carro flex com etanol em apenas quatro Estados, segundo pesquisa da ANP: São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Tocantins.
Nos outros, o litro do hidratado custava 70% (ou mais) do valor litro da gasolina.
“O consumidor escolhe pelo bolso”, disse Adriano Pires, presidente do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura). “Corremos o grande risco de acabar com o carro flex, da mesma forma como acabou o carro a álcool. A história se repete”, acrescentou.
A falta de um planejamento estratégico para o setor é outra queixa dos usineiros.
Os investimentos em canaviais estão praticamente paralisados desde a crise financeira de 2008, e os produtores aguardam uma sinalização do governo para investir.
Hoje, as usinas conseguem abastecer com álcool apenas 45% da frota flex, segundo estimativa da Unica.
Mas, para o presidente da Açúcar Guarani, Jacyr Costa Filho, não é possível comparar o fracasso do Pró-Álcool com a crise atual do setor.
“A diferença é que agora o consumidor pode escolher entre o álcool e a gasolina no momento da compra do combustível, não ao comprar o carro”, afirma.

fonte: Folha de Sp