Marina morena. Peço perdão pela intimidade, mas acho que, pela sua biografia, você não se importará se um brasileiro comum e desimportante julgar-se seu íntimo e seu amigo. Nunca teria coragem de me dirigir nesses termos a uma importantíssima candidata, mas, no caso e tendo em vista quem você é, às favas com os protocolos!

Desejo pedir encarecidamente a você que seja candidata à presidência de nosso país. Com que direito peço isso? Com o direito de um sujeito que ama seu país e seu povo. Ainda mais porque sempre fui um utopista, como sei que também você é. Qual a minha utopia? Ver nosso país governado por gente honesta, que nos respeite e respeite nossa natureza, nosso meio ambiente. Acredito que não estou pedindo a lua – estou pedindo um mínimo aqui na terra mesmo. Nas presentes circunstâncias, com a nossa terra destroçada pela corrupção, erodida pela politicalha, degradada pela safadeza, você, Marina, encarna nossa esperança. Mesmo que você não ganhe essas eleições, mesmo que você seja vencida pelo rio de dinheiro e safadezas que correrão para evitar que você ganhe, o povo, durante a campanha, a ouvirá e discutirá os males que nos contaminam, principalmente o respeito que deveremos ter com a nossa natureza, nosso nicho, nosso útero materno.

Nesse caso, se ganhar o outro ou a outra, constituiremos uma frente unida e bem instrumentada para impedir nossa degradação social, política e ambiental. Mas não vamos para a luta pensando isso. Vamos acreditar que o brasileiro terá um governo decente e que salvará nossas florestas, nosso Cerrado, nossos campos, nossas águas, nossos ares, nossa moral e nossa autoestima. E ainda, especialmente, salvar nossa Amazônia do estrago provocado pela bandidagem dos saqueadores dos bens naturais, bens esses que são a garantia de nossa vida aqui na terra. Para mim e para milhares de brasileiros, o panorama político está muito claro – surgiu uma lamparina poderosa e iluminadora, igual àquela que você conduzia pelo seringal no seu tempo de mocinha, uma simples lamparina, acesa pelo pensamento de Chico Mendes, mas que, com o tempo, tornou-se uma luz poderosa, tão poderosa que pode iluminar um povo.

Não sou ingênuo. A primeira etapa da sua luta será ganhar as eleições; a segunda será escolher homens decentes para ajudá-la a governar e, a partir daí, você terá que reorganizar a casa. As forças do atraso que pretenderão criar obstáculos a esse trabalho são imensas – vão das multinacionais riquíssimas ao pequeno vereador corrupto de uma cidadezinha do interior. Quando acabarem as eleições, se você ganhar, teremos que formar uma frente para ajudá-la – não poderemos ensarilhar as armas. Aqui está o que provoca o diferencial em sua candidatura – a luta será maior, o esforço será mais intenso no “sétimo dia de criação”. Estaremos mergulhados numa guerra desumana e cruel – a história está aí para nos demonstrar – os príncipes de Maquiavel, a essas alturas, já começaram seu trabalho e convocaram seu exército de mercenários.

Uma coisa curiosa, Marina, vai acontecer – o mundo inteiro noticiará sua candidatura e as melhores gentes desse mundo, principalmente aqueles que têm dedicado suas vidas a seu salvamento estarão atentos, torcendo e ajudando os eleitores brasileiros a votar bem, a votar nas suas ideias, a votar na esperança, a votar na honestidade, a votar no humanismo, a votar na dignidade, a votar na decência.

Você, Marina, é uma pessoa esperta, inteligente e já deve ter percebido a importância extraordinária para o país e para o mundo de sua candidatura. O sistema político apodrecido que vem de muito tempo estará abalado com ela. Há tempos, conduzimos um homem ao poder pensando que era o “cara”. Não foi nada disso, só modificou detalhes, só se preocupou com o transitório, só se interessou pelo efêmero. Embriagou-se pelo poder, entusiasmou-se pelos poderosos e, principalmente, pelos inescrupulosos. Sujeitos como eu, que tiveram sonhos de que certas pessoas mudariam o País, mergulhamos no desencanto.

Mas, Marina, nossa alma se renovou, nossa esperança recomeçou a brotar quando você surgiu no horizonte político como se fosse uma nova Joana D’Arc. Ela era uma camponesa como você, ela era simples como você, era religiosa como você. Mas não nos esqueçamos, vão querer queimá-la, principalmente depois de sua vitória.

Acho que a melhor parte do povo brasileiro está feliz com seu aparecimento, montada em seu cavalo verde, mas também estamos preocupados com as artimanhas dos inimigos. Não queremos que você seja santa, queremos que você seja isso que é, gente nossa presente entre nós, com suas qualidades e seus defeitos. Não queremos botar seu nome na relação de santos, não queremos que você seja lenda, não desejamos você queimada em fogueiras de inquisição nenhuma. As artimanhas do demônio, acreditemos ou não nele, são de uma malícia insuperável. Nesse caso, futuros eleitores de Marina, temos que votar nela e segurá-la no poder, tarefa mais difícil e árdua do que elegê-la.

Olhando o nosso panorama político atual, nos espantamos. A que ponto chegamos, meu Deus? Abriram as bocas do inferno e saíram os demônios apelidados de Collor, Renan, Barbalho, Sarney e outros menores. Não terei surpresa nenhuma, Marina, se alguns deles aderirem à sua candidatura – pode contar com isso. Até o nosso Lula, se enxergar a coisa perdida, procurará ser simpático, ou mesmo dizer que é seu eleitor desde criancinha. Lá pelas tantas, em nome do “ganhar eleições”, vão lhe oferecer os melhores acordos, desde que eles, os políticos profissionais, não percam seus dedos, mas somente os anéis, pois isso é fácil – roubarão outros! E depois de sua vitória, em nome da governabilidade, irão lhe oferecer lançar-se no abismo e adorar Belzebu. Você, como pessoa religiosa, sabe muito bem disso.

Afinal o que nós, seus partidários, estamos oferecendo a você, Marina? Aquilo que Lula pensa que ganhou? As delícias do poder? A embriaguez do mando? O afago permanente dos puxa-sacos? O inchamento do ego? Nada disso, mas um caminho difícil de ser trilhado, cheio de obstáculos e muitos tombos e, por vezes, a solidão íntima do poder e a dúvida quanto ao caminho certo. No nosso folclore, o capeta está sempre na encruzilhada!

Elder Rocha Lima