A China acabou com o limite no uso de peças importadas para a montagem de turbinas usadas na geração de eletricidade por energia eólica. O fim da barreira protecionista pretende dar mais impulso à energia renovável e facilitar o acesso à tecnologia estrangeira.

A decisão foi tomada pela poderosa Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, o principal organismo de planejamento do país, que revogou a exigência de que 70% das peças das turbinas fossem nacionais, segundo noticiou ontem o jornal “China Business News”.

A mudança ajudará “o desenvolvimento da indústria de energia eólica e vai abrir um mercado de concorrência racional”, descreve nota da comissão enviada a governos locais. “A limitação estava impedindo a busca chinesa por tecnologias mais avançadas”, afirma o comunicado.

Empresas estrangeiras detinham 75% do mercado de turbinas até 2005, quando a barreira foi estabelecida. Em 2009, a participação foi de 25%.

A capacidade instalada de energia eólica do país alcançou 20 gigawatts (bilhões de watts) no final de 2009, segundo previsão da agência de notícias Xinhua. Isso faria o país ultrapassar a Espanha, que nos dados consolidados de 2008 foi o terceiro maior produtor de eletricidade por turbinas de vento, atrás de EUA e Alemanha.

Cerca de 70% da energia na China, porém, é produzida em termelétricas a carvão, e 23% saem de petróleo e gás natural, o que faz do país o maior emissor de gases do efeito estufa no mundo. Uma abertura maior do mercado chinês a tecnologias de energia limpa pode ajudar a destravar as negociações para financiamento de medidas de corte de emissão, que terminaram em fiasco na conferência do clima de Copenhague, em dezembro.

A China tem hoje 6% de sua energia oriunda de hidrelétricas, mas menos de 1% do resto de sua matriz é limpa e renovável. O governo tem meta de gerar 15% de sua energia a partir de fontes renováveis até 2020.

Dois dos maiores produtores de painéis solares do mundo estão no país. Atualmente estão em construção na China as duas maiores usinas de energia eólica do mundo. A maior será na Província de Gansu, no noroeste, com capacidade de 20 gigawatts a um custo de R$ 30 bilhões. Em 2020, ela poderá gerar 20 vezes mais energia do que a usina de Roscoe, no Texas, hoje a maior do mundo.
A segunda mais poderosa será em Ordos, na Província da Mongólia Interior, norte da China, no deserto de Gobi. Parceria da empresa municipal Nova Energia com a americana First Solar, a usina de 12 gigawatts terá energia eólica, solar e de biomassa.

Segundo um estudo publicado em setembro pela revista “Science”, o vento que sopra na superpotência asiática poderia dar conta de toda a demanda futura de energia do país até 2030. Para isso, seriam necessários investimentos de US$ 4,6 trilhões (quase o triplo do PIB brasileiro) em 20 anos, na conta do climatólogo Michael McElroy, da Universidade Harvard, autor principal do estudo.

Folha de São Paulo