BUNDANOON, Austrália – Quando os moradores de Bundanoon votaram, no mês passado, pela proibição da venda de água engarrafada, não esperavam virar alvo das atenções mundiais.

Ao levantarem as mãos de forma quase unânime numa assembleia comunitária, os habitantes da pequena localidade turística australiana desencadearam um debate global sobre os efeitos socioambientais da água engarrafada, deixando o setor de bebidas na defensiva.

Nos EUA, autoridades locais e estaduais têm defendido a redução gradual do uso da água engarrafada em repartições públicas, citando preocupações como a energia usada para fabricar e transportar garrafas e a perda da confiança da população no abastecimento municipal de água. Mas, até onde os ativistas sabem, Bundanoon -uma pacata cidade de jardins arrumados e bangalôs, cercada por sofisticadas casas de fim de semana- é a primeira cidade do mundo a proibir a venda da água engarrafada.

Segundo Huw Kingston, dono de uma loja de bicicletas e um dos líderes da campanha “Bundy na Torneira”, a proibição não surgiu como uma cruzada ambiental. Começou quando uma engarrafadora solicitou permissão para extrair milhões de litros do aquífero local.

No início, os moradores se incomodaram com a perspectiva de caminhões-pipa fazendo barulho em suas pacatas ruas. Mas, contou Kingston, muitos começaram a questionar a ideia de levar água em caminhões para uma fábrica 160 km ao norte, em Sydney, para depois transportá-la para a venda em outros lugares -possivelmente até de volta a Bundanoon.

“Nós nos conscientizamos do que é a indústria da água engarrafada”, disse Kingston. “Então lançou-se a ideia de que, se não queremos uma planta de extração na nossa própria cidade, talvez não devêssemos sequer vender o produto final.”

Cerca de uma dúzia de ativistas se reuniu e convocou uma assembleia. Dos 356 moradores presentes, só um votou contra. A proibição foi inteiramente voluntária. Mas, com apoio da opinião pública, os seis vendedores de alimentos da cidade concordaram em retirar a água engarrafada das suas gôndolas a partir de setembro.

Alguns dos 2.500 habitantes da cidade dizem apoiar o plano devido à sua preocupação com os efeitos das substâncias químicas nas garrafas de plástico; outros o veem como uma manifestação positiva contra a engarrafadora de água.

A atenção despertada irritou o setor de engarrafamento de água, que movimenta anualmente cerca de US$ 60 bilhões no mundo, sendo US$ 400 milhões na Austrália. Entidades setoriais consideram injusto recriminar a água engarrafada, quando muitos outros produtos têm impacto ambiental igual ou maior.

Mas, em frente à sua loja de jornais e revistas, Peter Stewart disse que o foco sobre Bundanoon vale os US$ 1.200 anuais que ele prevê perder sem a venda de água. “Que um grupo de pessoas possa se juntar em poucos meses e virar manchete no mundo inteiro é implesmente incrível”, disse ele. “Há muito orgulho na cidade.”

Por MERAIAH FOLEY