Fani Mamede1

A COP 15 de Mudanças Climáticas para alguns foi um fracasso, para outros não seria possível encontrar a solução para conter o processo de aquecimento global em apenas duas semanas. Alguns ainda consideram que apesar da COP 15 não ter dado as respostas que todos esperavam, foi importante para a evolução e o entendimento de alguns pontos. Ah! Existem os que dizem que a COP 15 valeu, pois expos o desejo e a pressão das comunidades de todo o mundo. Tem aqueles que acharam que é isso mesmo, que os resultados de uma COP não apresentam decisões concretas, mas parte de um conjunto que prossegue a cada encontro concluído e que não era esperado mais que isso. Além de outras tantas opiniões, tem os que acreditam que a ONU é demasiadamente democrática na condução de suas convenções.

Culpam o documento da Dinamarca1 dizendo que ele trouxe instabilidade às negociações; o Obama que demonstrou não ter o poder esperado junto ao Congresso do seu país; a China que se posiciona de acordo com sua conveniência e interesses, se a situação pede uma atitude como país rico, ela se posiciona como desenvolvido e faz acordo com seu “parceiro” na economia, os EUA, se o momento é de compromisso sério e concreto, se comporta como um país em desenvolvimento e, portanto, não passível de metas obrigatórias. E em toda essa complexidade de interesses e interpretações, os países insulares buscam desesperadamente o entendimento de todos para que encontrem soluções para a grave ameaça que os cercam.

Foi somente uma grande experiência ou sentiremos as consequências desses resultados no futuro próximo? Na Alemanha em junho ou no México em dezembro será diferente? Teremos resultados reais e sensíveis que reflitam o compromisso de todos, ricos ou pobres, para o objetivo planetário comum? Como bem diz o nosso Presidente Lula, se o mundo fosse quadrado cada um cuidaria do seu, mas é redondo e o que acontece do outro lado, seguramente acontecerá aqui também.

Diferentemente da opinião de alguns veículos de comunicação que consideraram um absurdo o tamanho da delegação brasileira – a maior de todas, seguida pela delegação da China, como se esses representantes não estivessem lá pelo esforço de cada setor – ela deve ser considerada como uma amostra da preocupação, envolvimento e disponibilidade dos brasileiros em contribuir com seu empenho e energia rumo à garantia do futuro das próximas gerações.

COP-15

Não podemos e não devemos pensar que uma COP é um compartimento estanque e não o resultado de um processo. Outras 14 reuniões aconteceram pelo mundo, um mecanismo foi criado, definindo metas e compromissos das partes – o Protocolo de Kioto. Entre uma COP e outra, várias reuniões preparatórias acontecem, reunindo os diversos segmentos e abordagens políticas, científicas, econômicas, sociais e ambientais, claro. Não serão apenas duas semanas para pensar, debater e encaminhar soluções. As duas semanas devem ser para o fechamento de um ciclo de discussões, amadurecidas internamente por cada país, debatidas entre as partes e consolidadas num grande encontro. Os recursos financeiros despendidos para a realização de um evento dessa magnitude são inquestionáveis. A parte isso, as despesas assumidas pelos governos dos países e pelos setores que os formam, representam uma fatia considerável de recursos técnicos e financeiros.

O resultado desse evento é impactante não somente no que diz respeito ao encaminhamento das decisões das partes, mas econômica e socialmente também. E o impacto ambiental de tantos deslocamentos por terra, água e ar, cujas emissões de gases de efeitos estufa (GEE) que ao serem somados, seguramente adicionarão e exercerão influência no nível de emissões? Sem contar a tecnologia utilizada para a realização do evento, infraestrutura que sem dúvida contribuiu para a emissão de GEE e fortaleceu ainda mais o padrão de produção e consumo vigente no planeta que orienta esse ultrapassado modelo civilizatório.

É preciso mais seriedade, compromisso e respeito por todas e todos que habitam um mundo onde cada vez mais nos aproximamos, não somente no que diz respeito às facilidades em vencer as distâncias geográficas, mas nas nossas necessidades básicas de vida, de sobrevivência.