F-1 –  Governo assume organização para conter prejuízo milionário

Pessoas procurando comida em latas de lixo, negócios fechados e muitos pedintes. Os sinais da crise pela qual a Europa -e, em especial, a Espanha- passa são facilmente percebidos em Valência.

E, apesar de ser uma das etapas favoritas de pilotos e equipes, a manutenção do GP da Europa de F-1 na cidade parece cada vez mais difícil.

A prova em Valência, que hoje chega à quinta edição, nunca atraiu grande público. Pior, sempre foi deficitária.

Segundo números da imprensa local, em 2011, só um terço dos € 20,7 milhões (R$ 53,4 mi) pagos a Bernie Ecclestone para ter o direito de receber a corrida retornou.

No início deste ano, a organização do GP e a administração do circuito passaram das mãos de uma empresa particular, a Valmor Sports, para o governo valenciano, que assumiu as dívidas da firma.

Para tentar minimizar o prejuízo, neste ano a capacidade das arquibancadas foi diminuída de 65 mil para 45 mil lugares. Anteontem, nas primeiras sessões de treinos para a corrida de hoje, poucos setores estavam cheios.

“Reduzindo a capacidade conseguimos reduzir também os custos de montagem”, explicou Gonzalo Gobert, diretor-geral do circuito. “Não acho que nem a gente nem a Catalunha [que recebe o GP da Espanha] ganhe dinheiro com a corrida. Nosso objetivo é simplesmente reduzir a diferença entre o dinheiro que gastamos e o que entra, para chegarmos ao equilíbrio.”

Promoções no preço das entradas e uma campanha agressiva de marketing também foram adotadas neste ano. Segundo Gobert, 64% dos bilhetes são vendidos para torcedores estrangeiros.

Uma possibilidade que está em estudo para viabilizar a permanência da cidade litorânea no calendário da F-1 é fazer um rodízio entre Valência e Barcelona como sede do GP da Espanha como já acontece na Alemanha, entre Nurburgring e Hockenheim.

A ideia, que poderia ser colocada em prática já no ano que vem, foi aprovada por Ecclestone, detentor dos direitos comerciais da categoria e responsável pelo calendário. Mas ainda não saiu do papel.

“Neste momento, as duas cidades têm contrato com a F-1 e, enquanto isso não mudar, os compromissos serão mantidos”, disse Carlos Gracia, presidente da federação espanhola de automobilismo.

Ídolo nacional, Fernando Alonso acha que, apesar da situação difícil que seu país atravessa, manter o GP é uma forma de ajudar Valência.

“Ter um evento que milhões de pessoas vão ver pela TV é boa publicidade.

Ao mesmo tempo, se começarmos a questionar se devemos ou não realizar eventos esportivos por causa da crise, nunca vamos parar”, afirmou o piloto da Ferrari.

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A VALÊNCIA

Fonte: Folha S. Paulo