As emissões globais de gás carbônico deverão cair 3% em 2009, graças à crise econômica. Isso abre uma “janela de oportunidade única” de estabilizar a concentração global de gases-estufa no nível considerado seguro pelos cientistas, afirmou ontem a Agência Internacional de Energia (AIE).

O presidente da AIE, Nobuo Tanaka, divulgou nesta terça-feira (6), durante a reunião das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Bancoc, Tailândia, resultados do “World Energy Outlook”, relatório anual da agência sobre produção e consumo de energia no mundo.

É a primeira vez que o órgão antecipa uma parte do relatório. A medida tem o objetivo declaradamente político de subsidiar a negociação do acordo do clima de Copenhague, a ser fechado em dezembro.

Surpresa
Segundo Fatih Birol, economista-chefe da AIE e coordenador do relatório, o impacto da crise global sobre as emissões surpreendeu até mesmo a agência. Mesmo se nenhuma política de controle de CO2 fosse adotada no mundo, as emissões em 2020 seriam 5% menores do que o estimado pela AIE no ano passado, afirma.

“Isso se contrapõe ao crescimento de 3% ao ano das emissões”, disse Birol. “É como se em dois anos, 2007 e 2008, nós não tivéssemos emitido carbono nenhum, o que é uma oportunidade muito boa.”

Segundo a AIE, o mundo pode agora tentar estabilizar a concentração de gás carbônico na atmosfera em 450 ppm (partes por milhão). Segundo os cientistas do IPCC, esse é o nível de estabilização necessário para dar ao mundo uma chance de 50% de manter o aquecimento global abaixo de 2 graus Celsius, temperatura além da qual a mudança climática sairia do controle.

Alcançar as 450 ppm, no entanto, está longe de ser uma tarefa simples –ou barata. Segundo Tanaka e Birol, será necessário fazer uma “revolução” nos sistemas de transporte e energia, dobrando a participação de energias renováveis na matriz (hoje de 18%) até 2030 e aumentando a participação da energia nuclear. “Isso equivale a inaugurar 17 mil turbinas eólicas e 18 usinas nucleares por ano”, disse Tanaka.

Também será necessário um aumento brutal na frota de carros elétricos e híbridos: até 2030, os carros convencionais terão de ser reduzidos a 40% da frota global (hoje são 95%).

O custo dessa transição é estimado em US$ 10 trilhões entre o ano que vem e 2030. Essa é a má notícia. A boa, diz Birol, é que só as medidas de eficiência energética podem prover até 65% do abate. Cada ano de inação, porém, adverte Tanaka, aumentará o custo de estabilização em US$ 500 bilhões.

Claúdio Angelo
Folha de São Paulo