O diesel produzido a partir de cana-de-açúcar pela norte-americana Amyris começou a abastecer nesta terça-feira três ônibus de uma importante viação da capital paulista, numa fase final do programa de testes com o combustível, que deverá estar no mercado brasileiro já a partir do ano que vem, segundo um executivo da companhia norte-americana.

A Amyris desenvolveu uma tecnologia para biocombustíveis de segunda geração utilizando micro-organismos para transformar o suco extraído da cana em um diesel similar ao combustível fóssil. E fez do Brasil sua plataforma de operações porque a indústria de cana do Brasil é a mais competitiva do mundo.

“A primeira usina [com equipamento convertido para produzir o diesel de cana], da São Martinho, vai entrar em produção no ano que vem. Vai ter combustível mesmo (em escala comercial) no ano que vem”, afirmou Fernando Reinach, integrante do conselho da Amyris Biotechnologies.

“Mesmo assim, a quantidade de diesel [demandada] é tão grande que uma usina de etanol convertida é pouco. Nos próximos anos, vai ter a entrada dos outros parceiros’, acrescentou ele, referindo-se a acordos estabelecidos pela Amyris com outros grupos que atuam no setor, como Cosan, Bunge, Açúcar Guarani, para a produção do biocombustível.

A produção começará pela unidade de Pradópolis, da São Martinho, com quem a Amyris tem uma joint venture.

O programa com os ônibus paulistanos pretende comprovar o desempenho do combustível em testes realizados previamente pela Mercedes-Benz do Brasil, maior fabricante de caminhões e ônibus da América Latina.

Os ônibus de São Paulo envolvidos nos testes circularão com mistura de 10% de diesel renovável Amyris e 90% de óleo diesel comercial. Outros três ônibus circularão somente com diesel comercial para fins de referência.

Segundo a Amyris, os testes internos mostraram que a mistura contendo diesel de cana apresentou 9% de redução nas emissões de materiais particulados à atmosfera quando comparado ao diesel derivado do petróleo, mantendo inalterados os parâmetros de desempenho do motor.

“A grande vantagem é que ele é zero de enxofre, totalmente renovável, igual ao etanol, e não compete com a produção de alimentos, que é a crítica que muita gente faz ao biodiesel.”

Os primeiros ônibus com diesel de cana circularão durante seis meses em linhas com grande fluxo atendidas pela Viação Santa Brígida.

Os resultados podem dar ainda subsídios para a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) aprovar o novo combustível.

“Ainda precisa ser aprovado pela ANP, mas já está no estágio final, nos EUA já foi aprovado… Não se sabe se vai ser comercializado em leilões da ANP, ele entra como renovável, mas não é um biodiesel, ele tem todas as propriedades do diesel, ele pode ser usado puro”, ressaltou Reinach, lembrando que à ANP também caberá classificar o novo combustível.

O abastecimento dos ônibus ficará sob a responsabilidade da Petrobras Distribuidora.

FSP