Senhor Presidente,

Senhoras Senadoras e Senhores Senadores:

Nestes tempos de turbulência política, em que, tenho a mais absoluta convicção, nenhum de nós gostaria de navegar, sempre buscamos, em outras marés, algo que nos reconforte e que nos dê um norte. Pode ser, quem sabe, no aconchego da família. Pode ser, quem sabe, na palavra de conforto dos amigos. Pode ser, quem sabe, no recolhimento da fé.

Ligamos a televisão e nos vemos, corpo e alma, como protagonistas do emaranhado das piores notícias que têm povoado a mídia neste início de século e de milênio. Somos construtores diretos de uma história política que, tenho certeza, não servirá de boa referência para as gerações que virão.

Mas, repito, buscamos também na mídia, com olhos de esperança, algo que esteja além das novas doenças e dos velhos hábitos. Esta semana, para mim, por exemplo, é um destes momentos de procura por bonança. Uma necessidade individual, no bojo de uma adversidade coletiva. Uma busca pessoal, a partir de uma evidente perda institucional. Haveria de ter algo que me devolvesse as boas energias, e as canalizasse para as melhores causas.

Confesso que tem sido difícil encontrar boas notícias nestes nossos tempos de perda de valores e de referências. Desemprego, violência, não necessariamente como causa e conseqüência. A volta de moléstias que pareciam exterminadas. Novas pandemias. Velhos males que ainda parecem imunes ao progresso da ciência.

De repente, eu me deparo, na tela que coloca o mundo na minha sala, com um único ser humano que traz, no seu âmago, dentro de si, o muito do tudo o que eu vivo, ao mesmo tempo em que tudo do muito que eu busco. A turbulência e a bonança. A dor e a fé. A adversidade e a esperança. O cansaço e a perseverança. A ciência e a religião. A vida e os desígnios de Deus.

José Alencar Gomes da Silva
Ao vê-lo e ouvi-lo, eu perdi, ainda mais, o direito de esmorecer, por um único dia que seja, na luta pela minha própria vida. E pela existência digna, sempre, de tantos outros Josés, e de tantos outros Silvas, como ele.

Velha doença. Turbulência. Frágil ciência.

Esperança. Bonança. Fé que tudo alcança.

O Zé Alencar é, hoje, uma das nossas melhores referências. Como ser político e como ser humano. Ser, enquanto substantivo, positivo. Mas, que deveria ser, também, enquanto verbo, normativo. O Zé Alencar é como deveria ser o político e o humano. Como deveríamos ser todos nós, seres políticos e seres humanos. A verdadeira encarnação da ética, do bom profissionalismo, do equilíbrio, da serenidade, da perseverança, da humildade, da modéstia, da esperança e da fé.

Pela modéstia e pela humildade, nem parece que o Zé Alencar seja um dos empresários mais bem sucedidos do País. Nem parece ser o Vice-presidente da República.

Pela esperança e pela fé, nem parece que o Zé Alencar tenha superado tantas intervenções cirúrgicas.

“Eu não tenho medo da morte”, disse ele, depois da décima quinta cirurgia. Creio que, também, a morte tenha-lhe o maior respeito. Talvez, no máximo, ela se curve, respeitosamente, ante a sua vida. Até mesmo a morte deseja-lhe uma longa existência, porque sabe da importância da sua vida.

José Alencar não se nega a falar da morte, mas faz uma opção clara e firme pela vida. Como no filme “O Sétimo Selo”, de Bergman, ele sabe que, como todos nós, a morte é única certeza absoluta que nos habita. E que baterá à nossa própria porta, um dia. Mas, ele não deixa que ela assuma o controle daquilo que lhe é primordial: a vida. Uma vida que ele se dispôs compartilhar, na sua opção pela melhor política.

Ele não se contenta em viver a sua própria história. Faz uma evidente opção por construí-la, coletivamente.

As múltiplas cirurgias e o tratamento experimental de José Alencar não são, portanto, uma atitude meramente individual.

Com fé, ele dedica a sua própria existência à causa coletiva, como voluntário ao progresso da ciência.

Quem vê, e ouve, o Zé Alencar de hoje, tem a sensação de uma versão mais experiente do mesmo homem de décadas atrás. Nem o poder, nem o dinheiro, nem mesmo os seus múltiplos tumores abalaram a sua maneira simples e serena de viver. Um homem que ama a vida, e que fez dela a referência, e o sustento, de tantas outras vidas.

Quem o conhece desde longo tempo, diz não perceber diferença, na maneira de ser, entre o patrão da “Coteminas”, império têxtil de hoje, e o empregado da “A Sedutora”, pequena loja de tecidos da sua Muriaé. O Alencar Gomes é o mesmo José da Silva.

Eu havia pensado em me dirigir, hoje, diretamente, ao nosso querido amigo, e ex-companheiro de Senado Federal, Zé Alencar, para lhe dar forças nesta sua luta pela vida. Quem sou eu? Melhor seria se eu lhe pedisse forças. Quem dera se eu tivesse as suas energias! A sua perseverança. A sua fé.

Não é à toa, portanto, que, neste momento de busca pela bonança, em meio a tamanha turbulência, eu me espelhe em José Alencar, neste mesmo momento em que ele luta, com tamanha fé, contra um mal que a ciência, apesar de tantos avanços nos mais diferentes campos, ainda não deu conta de debelar. Pode parecer contradição, mas é no calvário de José Alencar que devemos buscar forças para ultrapassar essa mesma turbulência.

Digo que não é contradição, porque o ser mais importante da nossa história também teve no calvário o mais sublime momento para mudar, e salvar, toda a humanidade. Para todo o sempre.

Por isso, quero apenas dizer ao meu amigo, companheiro e irmão Zé Alencar que, mesmo neste seu momento de dor, quem sabe o Deus-Pai tenha lhe reconhecido um papel dos mais importantes para transformar uma realidade de perda de valores. Para que, em vida, e que ela seja longa, você possa continuar sendo uma das nossas melhores referências. Para que esta mesma vida exemplar possa tocar corações e mentes, a exemplo do que acontece comigo, sempre que lhe vejo, e ouço, falar de vida na sua plenitude.

Não quero dizer, com isso, que Deus escolhe os melhores corações para lhes confiar os fardos mais pesados. Aí sim seria uma contradição em escala divina. Eu apenas acho que este mesmo Deus, Todo-Poderoso e justo, deu-lhe uma missão das mais sublimes nesta nossa história contemporânea.

Uma missão de fé e, quem sabe, queira este mesmo Deus, de ciência. Muitas vezes, a ciência renega a fé. No seu caso, a fé ilumina a ciência. Quem sabe Deus esteja lhe reservando, também, um momento sublime para mudar, e salvar, muitos outros seres humanos. Igualmente para todo o sempre.

Por isso, hoje, eu sinto que as forças e o exemplo que busco em você, companheiro, amigo e irmão, estou certo vêm de Deus.

Então, é a esse mesmo Deus que eu me dirijo, neste instante: que Ele lhe reserve, ainda, muito mais energia, para enfrentar a sua turbulência pessoal, e que a sua via-crucis não seja em vão, para que tantos outros Josés, e igualmente Silvas, sejam abençoados pela sua fé no sentido de que a ciência encontre, no menor prazo possível, a cura para esse mal que ainda teima em nos conduzir ao calvário.

Ainda me lembro, com emoção, quando do nosso encontro, juntamente com todos os irmãos franciscanos da América Latina e Caribe que participaram, em Brasília, da Celebração aos oitocentos anos do Carisma Franciscano. Era parte do programa entregar ao Presidente da República, a “Carta de Brasília”, com as principais conclusões e reivindicações do evento.

Recordo-me da aparente decepção de um dos participantes menos avisados, ao saber que não seria recebido pelo presidente representante das classes populares e menos favorecidas, e sim por alguém das fileiras da classe empresarial. Uma decepção que se dissipou e se transformou, de pronto, em encantamento, logo nas suas primeiras palavras de boas-vindas.

Ali, naquele momento, estava provado que o verdadeiro franciscano não é, necessariamente, aquele que reparte o que tem, mas o que divide o que é. Todos os franciscanos sentiram-se em casa, embora em um ambiente típico de palácio.

A política é, também, ciência. Mas, igualmente aí, ela não encontra o melhor destino, sem fé. É preciso resgatar a fé na política, tão desacreditada nestes nossos tempos. E este mesmo resgate também não se fará através de alguma espécie de decreto, ou de medida provisória, que nos usurpe a capacidade exatamente de fazer política.

É por isso que ainda precisamos de referências políticas como José Alencar. A sua crítica mais que construtiva, como no caso dos juros escorchantes. O seu apoio mais que necessário, como nas votações mais importantes deste Plenário, quando o objetivo era a melhor causa coletiva.

Que Deus ilumine, cada vez mais, este nosso irmão e companheiro, através da sua fé inabalável. Para que todos nós possamos continuar no aprendizado da sua lição de vida. Uma vida que, queira Deus, seja longa e bem vivida.

Quanto à política, navegar é preciso, embora as turbulências. Velear, sem veleidades. Espelhados no exemplo de José Alencar, haveremos de encontrar o melhor rumo. Impulsionados pelos ventos da ética. Sem os encalhes da vaidade. Nem a calmaria paralisante da omissão. Com fé, esperança e perseverança. O modo José Alencar de fazer política. O modo Zé Alencar de viver.

Era o que eu tinha a dizer,

SENADOR PEDRO SIMON