Brasil deveria aproveitar visita de Obama para retomar esse debate, afirma presidente da Unica

Marcos Jank afirma que Brasil não tem condição de atender a demanda dos EUA e fala em novo ciclo de investimentos

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

A última visita de um presidente americano ao Brasil, em 2007, terminou com a assinatura de um acordo de co-operação na área de etanol. Mas houve pouco avanço.
A descoberta do pré-sal mudou o paradigma do setor de energia no Brasil, e Barack Obama chega ao país de olho no petróleo nacional.
Ante a morosidade na abertura de mercado ao etanol, Marcos Jank, presidente da Unica (associação do setor), disse à Folha que, “para que a tarifa caia, tem de haver pressão”.

Agenda
O etanol está na pauta entre Brasil e EUA desde 2007. Eu até acho que o etanol está mais na pauta do que o petróleo, porque já existe um memorando claro entre os dois países que precisa de continuidade. Ele precisa avançar no tema da tarifa. Isso é muito importante, porque já foi criada abertura ao Brasil.
Os EUA reconheceram o etanol de cana como combustível avançado (reduz a emissão de gases de efeito estufa em mais de 60%). Vamos pedir ao Obama que nos ajude a fazer com que essa tarifa caia.

Potencial
Os EUA têm um programa ambicioso para o etanol, que é a mistura de 15% à gasolina em 2022 (hoje a mistura é de 10%). Isso vai dar cerca de 140 bilhões de litros de consumo. É mais do que quatro vezes a produção brasileira.
Desse total, 60 bilhões serão de etanol de milho. Todo o resto foi alocado para os biocombustíveis avançados, que é o tal do etanol celulósico -que todo mundo fala, mas que não existe comercialmente- e a cana.
Portanto, já existe a chance de que a cana entre na fatia do mercado onde o milho não pode entrar. O que está impedindo isso? É a tarifa.

Obama
A tarifa muitas vezes não é assunto do Executivo, e sim do Legislativo. Então mesmo que o Obama dissesse que ele é favor (ao etanol brasileiro) -e ele já disse várias vezes, embora nunca se posicione claramente porque ele vem de Iowa e tem lá o lado agrícola- no Legislativo existe bastante dificuldade.
Mas o Executivo americano é a favor, até porque as importações ajudariam a reduzir as emissões, a dependência do petróleo e o custo da gasolina na bomba. Também porque o etanol de milho custa US$ 6 bilhões por ano aos cofres públicos nos EUA.

Pressão
Para que a tarifa caia, tem de haver pressão. E essa pressão pode ser feita pelo governo, como a gente espera que seja tratado pela presidente Dilma, ou estamos dispostos a ir à OMC e questionar.

Oferta
Não vai ter etanol no curtíssimo prazo para atender o mercado americano. Agora, se tiver uma sinalização de que a tarifa pode cair, temos condições de fazer o setor crescer.
Nos últimos dois anos, a indústria cresceu só 3% ao ano. Com a crise de 2008, 30% do setor quase quebrou. Não tem cana nova. Conversamos com o governo sobre um novo ciclo de investimentos.


Fonte: Folha de São PAulo