O desemprego na área dos jovens constitui uma das maiores ameaças ao desenvolvimento harmônico do país. Nas décadas de 60/70, o governo militar apregoava aos quatro ventos que ninguém segurava a juventude do Brasil. O refrão corria o território.  A idéia-força procurava demonstrar que o futuro do país seria construído por jovens brasileiros, competentes, aplicados, bem formados, honestos, solidários, voluntariosos. Por um curto período, a fórmula funcionou, mas a realidade foi aos poucos se distanciando do que dizia a propaganda oficial. O fato é que, de lá para cá, nenhum governo conseguiu pavimentar os caminhos da juventude brasileira, assegurando-lhe as condições necessárias a uma sobrevivência digna.

Passados os anos, fomos descobrindo que o passivo do país muito se deve ao atraso dos programas voltados para fomentar o ativismo da nossa juventude. Na verdade, até o presente os governos foram incapazes de garantir aos jovens um lugar no trem do futuro. Se não cuidarmos deles, não teremos motivo para crer na possibilidade de inserir o país no concerto das grandes Nações. Vejamos o estado precário em que se encontra este estrato social. Atualmente, metade dos desempregados brasileiros é jovem e tem idade entre 15 e 24 anos. Nossa taxa de desemprego juvenil não parou de crescer nos últimos 15 anos e hoje é três vezes maior que entre os adultos.

Em relação aos jovens do sexo feminino, a taxa de desemprego praticamente dobrou. Não bastasse tudo isso, há mais um agravante. Trata-se da face cruel construída pela dura realidade de uma parcela de nossa juventude: as meninas mães. Parte significativa dessas jovens abandonou a escola, não tem trabalho e nem condições de procurá-lo. São jovens mães atribuladas com a maternidade precoce. O baixo desempenho da economia brasileira é apontado pelos pesquisadores como o grande responsável pelo agravamento do problema. Quando o país cresce menos de 5% ao ano não consegue gerar empregos suficientes para atender aos trabalhadores adultos e aos jovens, principais vitimas de um ciclo viciado: não se empregam por falta de experiência e não tem experiência justamente porque nunca trabalharam. Mas esse, infelizmente, não é o único obstáculo enfrentado atualmente pelos jovens trabalhadores do Brasil.    Filhos de famílias pobres, de pais desempregados ou subempregados e sem condições de sobreviver dignamente, grande parte deles é obrigada a deixar de estudar – componente importante na busca de oportunidades – para enfrentar o mundo em busca de trabalho sem qualquer qualificação. Resultado: submetem-se às exigências do subemprego, tornando-se presas fáceis da teia perversa do submundo do trabalho informal. Dessa cadeia perversa, nunca mais conseguirão sair justamente por falta de estudo e qualificação. Quando chegam a esse ponto, sem que se dêem conta, caminham em direção a um destino quase sempre sem volta. Eis a tragédia cotidiana que maltrata parcela de nossa juventude.

A porta do sucesso pela via do trabalho formal e digno é pequena demais para permitir a passagem de jovens que se apresentam em seu umbral, principalmente a multidão de carentes sem qualificação e sem perspectivas. Ela só se abre a alguns poucos, mais preparados, que conhecem o segredo de suas fechaduras e conseguem cumprir todas as suas exigências.

O jovem desempregado, desesperado, encontra uma outra porta, larga, atraente, sempre aberta a receber os que não conseguem penetrar no mercado de trabalho. Trata-se do submundo da criminalidade. Muitos dos jovens que estão ali, na frente daquele colosso de portal, sabem dos perigos que terão de enfrentar, porque o espaço perigoso do crime apresenta horizontes muito estreitos: riscos enormes, futuro incerto, vida breve. O que esperar de um inexperiente guerreiro-menino, desesperado, segurando a barra de seu tempo sobre os ombros, humilhado, desonrado, com seus sonhos de vida e de trabalho castrados, transformados em pesadelo?

É dever do governo e da sociedade lutar para que todo cidadão brasileiro tenha condições de trabalhar para romper as barreiras que impedem nossa juventude de ser feliz, construindo seu futuro e lapidando a grandeza da Nação com a argamassa da dignidade e da honradez.

Se continuarmos como estamos e nada fizermos para mudar a realidade em que vivemos será difícil – para não dizer impossível – abrir as portas do futuro.

Luiz Flávio Borges D’Urso, advogado criminalista, mestre e doutor pela USP, é presidente da OAB-SP.