O Amapá, Estado localizado no extremo Norte do Brasil, tem em seus aproximadamente 14 milhões de hectares de extensão – com riquezas extraordinárias de fauna, flora e minério – a maior e a mais significativa área protegida de floresta tropical do país: 96% de área verde protegida e intacta.

Com uma política de conservação dos diferentes ecossistemas existentes em seu território, aliando sustentabilidade e desenvolvimento econômico, com geração de emprego e renda, em 2003 foi criado o Corredor de Biodiversidade. O Estado foi o centro das atenções do Congresso Mundial de Parques, em Durban, na África do Sul, onde o então governador do Estado, Waldez Góes, fez o anúncio para a comunidade internacional da criação do maior corredor ecológico do Brasil, colocando o Amapá na liderança da conservação da biodiversidade brasileira.

São mais de 10 milhões de hectares, ou quase 72% do Estado do Amapá, em uma das propostas de conservação e desenvolvimento mais inovadoras do mundo. O sistema garante a proteção de mangues, cerrados, florestas tropicais, florestas de altitude e terras alagadas – e está localizado estrategicamente entre o escudo das Guianas e o estuário do rio Amazonas. O Corredor integra doze unidades de conservação e cinco terras indígenas. Este ano, 2010, o governo do Amapá comemora sete anos de criação desse modelo de política ambientalista.

O coração do Corredor é composto por um conjunto de áreas protegidas, que representam 54,8% da extensão total do Estado. São 12 unidades de conservação contando com dois Parques Nacionais, uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável, três Estações Ecológicas, três Reservas Biológicas, uma Reserva Extrativista, uma Área de Proteção Ambiental, uma Floresta Nacional, além de quatro Terras Indígenas – Juminá, Galibi, Uaça, Waiapi – que congregam cerca de 4.500 índios. Essas unidades são conectadas por novas áreas protegidas, formando um mosaico de usos de terra ambientalmente sustentáveis, como sistemas agroflorestais ou ecoturismo.

Estima-se que o Corredor abrigue pelo menos 45 espécies de lagartos, 505 de aves e nove de primatas. A região é habitat de inúmeras espécies cujas populações estão em franco declínio em outras áreas de ocorrência, como os grandes carnívoros – a onça-pintada (Panthera onca), a suçuarana (Puma concolor), o gato-do-mato (Herpailurus yaguarondi), além de primatas, como o cuxiú (Chiropotes satanas) e o coatá (Ateles paniscus). Na mesma situação ainda se encontram aves como as araras (Ara chloroptera e Ara macao), papagaios (Pionites melanocephala), jacus (Penelope marail), flamingos (Phoenicopterus ruber), ibis (Theristictus caudatus e Eudocimus ruber), beija-flores (como o Topaza pella) e grandes frugívoros que vivem na copa da floresta (Haematoderus militaris, Perissocephalus tricolor e Procnias alba).

Em Dubai, o analista Russell Mittermeier, presidente da Conservation International reconheceu a proposta como uma das maiores iniciativas de caráter positivo para a conservação de uma parte da Amazônia e que poderá se estender às demais áreas verdes do planeta. Ele também fez referência a um mineral que, em outros países pode se tornar, dentro em breve, motivo de briga internacional e até mesmo de biopirataria, mas que no Amapá é farto: a água. “O Amapá está promovendo uma verdadeira mudança na escala da conservação. É um Estado que não sofrerá com a escassez de água, um recurso natural de futuro cada vez mais incerto. De fato, nesse Corredor são preservadas as cabeceiras de seus principais rios”.

Um empreendimento conservacionista desse porte mobiliza muitos recursos humanos, financeiros e tecnológicos. No Amapá, o gerenciamento do projeto conta com a participação da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA), do Instituto Estadual de Pesquisas Ambientais (IEPA), da Universidade Federal do Amapá, além da Gerência Executiva do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

Para prover o Corredor de Biodiversidade do Amapá com recursos financeiros, a Conservation International do Brasil trabalha com o Estado, estabelecendo um mecanismo financeiro de longo prazo, conhecido como Fundo Fiduciário para Conservação.

Para manter a preservação dessas riquezas naturais do Amapá, o governo do estado projetou um investimento de mais de R$ 25 milhões nesses sete anos de existência do Corredor de Biodiversidade, a serem aplicados no suporte e gestão às áreas protegidas, no desenvolvimento de capacidade local para estudos em biodiversidade, e na pesquisa de alternativas econômicas para as populações rurais que vivem no entorno das unidades de conservação. Em contrapartida, inicialmente a Conservation International, por meio do Fundo Mundial para a Conservação (GCF, sigla em Inglês), contribuiu com US$ 1,6 milhão.