Felipe Suplicy, formado em Yale, aponta “modus operandi e carta de despedida” como sinais claros de premeditação por parte do atirador de Realengo

André Vargas

Wellington Menezes de Oliveira, o protagonista do massacre em Realengo, sabia exatamente o que queria e como o faria. É essa a opinião do psiquiatra forense Felipe Suplicy, de 32 anos. Formado na prestigiada Universidade de Yale, nos Estados Unidos, ele trabalha atualmente em Atlanta. Antes, teve uma oportunidade única para um profissional que abraça o ramo de atividade que escolheu: trabalhar em presídios da Flórida, onde no passado estiveram criminosos do calibre de Ted Bundy (um serial killer que eliminou mais de trinta mulheres jovens em 13 estados, executado em 1989), Danny Rolling ( o estuprador de Gainesville, excutado em 2006)  e Aileen Wuornos ( uma prostituta que eliminava os clientes, história retratada no filmeMonster, desejo assassino).

É com essa experência que Suplicy assevera: no caso de Wellington, “o modus operandi, a carta de despedida e o ataque apontam premeditação e construção de um delírio paranóide”. De acordo com o psiquiatra, diferentemente dos assassinos Bundy e Rolling – psicopatas ardilosos, frios, incuráveis e sem nenhum traço de arrependimento -, Wellington integra um outro grupo bastante instável. “A carta indica que ele criou fantasias sistemáticas que teriam lhe dado um sentido de realidade. Para nós, estas ideias são confusas e ilógicas”, diz Suplicy. Wellington, que matou impiedosamente doze crianças na manhã da última quinta-feira, via nos outros os responsáveis pelo seu sofrimento e frustração – e por isso eles seria passíveis de castigo. Esse comportamento reproduz, em grande parte, o do estudante coreano Seung-Hui Cho, que em abril de 2007 matou 32 pessoas e feriu outras 35 na Universidade Virginia Tech.

Alguns alunos que escaparam da chacina perpetrada por Wellington na Escola Municipal Tasso da Silveira relataram a preferência do atirador de Realengo por alvejar as meninas. Ele matou, durante os minutos de terror que levou para a escola, dez alunas e dois meninos. Isso tem uma explicação: o criminoso queria fazer o maior estrago possível, exterminar o máximo de vítimas que conseguisse e, para tanto, buscava os alvos mais frágeis. “Ao final, eles agem como narcisistas psicóticos”, argumenta Suplicy.

Para o psiquiatra, a prevenção contra o horror que abalou o Rio, o Brasil e o mundo na última quinta vai além de colocar a polícia na frente da escolas. Melhor seria treinar professores para identificar sintomas iniciais de desequilíbrio. Algumas pessoas têm de ser controladas à base de remédio. “Ele estava isolado. Ninguém parecia saber de sua condição”, diz Suplicy.

Fonte: VEJA