A ex-senadora, que ganhou adeptos e eleitores em movimentos a seu favor em sites e redes sociais, agora é alvo de críticas revoltadas de seus correligionários

Adriana Caitano

Neste sábado, o conflito interno do Partido Verde (PV) deve tomar proporções mais concretas, já que os grupos rivais têm reuniões simultâneas marcadas em locais diferentes e, pela primeira vez desde que a disputa tomou corpo, com a presença de filiados e simpatizantes que não são dirigentes. O embate, no entanto, já está bem quente no mundo virtual. Em um grupo de discussão da legenda no Facebook, filiados incomodados com as recentes críticas feitas pelo grupo de Marina Silva ao comando nacional encabeçam uma campanha para que ela deixe o partido.

Acusando Marina de “traidora”, “autoritária”, “ingrata” e de ter dado uma “facada nas costas” da legenda, os filiados pedem que a ex-senadora crie o próprio partido, onde possa “ditar as regras” livremente. Eles também divulgam uma petição pública, já assinada por quase 200 pessoas, que pede punição a quem teria difamado a executiva nacional, comandada por José Luiz Penna. “Se não sabem aceitar as decisões da maioria, não podem fazer parte de um partido como o nosso”, diz o documento.

Em defesa de Marina Silva, outros integrantes lembram que, graças à ex-candidata à Presidência, o PV ganhou visibilidade e 20 milhões de votos nas eleições do 2010. Eles participam, neste sábado, em São Paulo, de um seminário para o qual são esperadas de 600 a 1.000 pessoas e em que serão discutidas mudanças no estatuto do partido. A ex-ministra do Meio Ambiente fará um dos discursos.

No mesmo horário, também em São Paulo, haverá o “ato democrático para proclamar os representantes eleitos” do diretório da capital paulista. O evento é protocolar, mas foi anunciado com euforia por rivais do grupo “Transição Democrática”, do qual Marina faz parte. O presidente nacional do partido, José Luiz Penna – maior alvo das críticas dos marineiros – deve comparecer.

Agenda – Marina Silva chega dos Estados Unidos, onde participa de eventos ambientalistas, na noite desta sexta-feira. Após o seminário na capital paulista, vai ao Rio de Janeiro, quando se encontra com dirigentes locais do PV. Na terça, volta aos Estados Unidos e posteriormente segue em uma “caravana democrática”, como seu grupo tem chamado as viagens que faz pelo país para conquistar apoiadores. Já há datas marcadas no Ceará e no Amazonas. Os objetivos principais são promover eleições diretas para a escolha dos dirigentes nacionais, estaduais e municipais e atualizar o estatuto do partido.

De acordo com o presidente do PV em São Paulo e um dos coordenadores do grupo “Transição Democrática”, Maurício Brusadin, uma exigência “inegociável” é que haja uma convenção nacional em julho. O grupo tem pressa por causa do prazo de novas filiações ao partido – o limite é o início de outubro, um ano antes das eleições 2012. “Muitas pessoas interessadas nas ideias do PV querem ser candidatas, mas só aceitam se tiverem poder de voto e o estatuto for renovado. Ele foi feito no século passado, antes da queda do muro de Berlim, e precisa estar antenado com o século XXI, como nosso programa”, relata Brusadin.

Rusgas antigas – Ele reconhece que a legenda já passava por conflito de ideias antes das eleições de 2010, apesar de todos os dirigentes e a própria Marina refutarem qualquer sinal de racha interno na época. “O PV tentou resolver tudo de forma consensual e a turma do deixa disso amenizava os embates, mas, com a prorrogação do mandato do presidente [que já está há 12 anos no comando] sem votação, não tem consenso”, afirma.

Em entrevista ao site de Veja, respondendo às críticas do grupo de Marina, o presidente José Luiz Penna afirmou que o PV vive “um surto de partido grande”. Mesmo em lados opostos, vários dirigentes reconhecem que a legenda não estava preparada para crescer tanto como ocorreu depois da candidatura da ex-senadora. “Pretendíamos apostar primeiro no aumento de eleitos nas assembleias e câmaras. O partido estava crescendo vagarosamente e esperava esse movimento forte rumo à disputa pela Presidência em uns 18 anos, mas a última eleição nacional catalisou  esse processo”, comenta Brusadin.

O presidente estadual acredita, porém, que, mesmo aparentemente desgastada com o conflito público de ideias, a legenda alcança sua maturidade política. “Não vivemos um surto de partido grande, mas um surto de grandes ideias”, rebate.

Fonte: VEJA