Ministro Luiz Barreto

Ministro Luiz Barreto

REVISTA ECOTURISMO – O que o governo brasileiro, e, principalmente o Ministério do Turismo podem aprender com o exemplo da África do Sul, que, antes da Copa, não era um destino muito procurado e este ano apresenta estimativa de receber 10 milhões de turistas?
LUIZ BARRETO – A Copa será irradiada pelas sedes, mas não acontecerá exclusivamente nestas 12 cidades. O Ministério do Turismo trabalha com uma meta, definida pelo Plano Nacional de Turismo, que é estruturar, até 2014, 65 destinos brasileiros e transformá-los em modelos de alto padrão de qualidade turística. Esses 65 destinos foram identificados por terem capacidade de induzir o desenvolvimento regional. Desde então, são o foco da política de regionalização da Pasta, recebendo, prioritariamente, investimentos técnicos e financeiros. Portanto todos esses destinos estarão habilitados a desenvolver atividades turísticas, com nível de excelência. Em termos de Copa e Olimpíadas, essa estrutura pronta vai fazer toda a diferença.

Quem vai ao Rio de Janeiro pode ir a Angra, Parati, Búzios, Petrópolis. Quem vai a Belo Horizonte pode conhecer as cidades históricas de Ouro Preto e Tiradentes. Quem vai a Porto Alegre certamente desejará visitar Gramado. E, em todos esses lugares, terá à sua disposição uma infraestrutura modelo.

REVISTA ECOTURISMO – Como será o processo de divulgação do Brasil no exterior para atrair o turista estrangeiro? O foco será somente nas cidades-sedes da Copa?
LUIZ BARRETO – O plano do Ministério do Turismo para a Copa 2014 define quatro eixos de trabalho. Um dos grandes temas é a promoção internacional, com projetos para fortalecimento da imagem do país no exterior, em parceria com a Embratur. Uma das ações recentes foi a entrega do kit promocional da Copa para as 12 cidades-sede. Ele contém imagens e vídeos de cada um desses destinos, manual de comunicação unificada para o Mundial de Futebol, ficha de mercado de cada estado com informações estratégicas do Plano Aquarela, além de materiais publicitários.

O kit está alinhado com a nova campanha de publicidade da Embratur, que estréia logo após o fim da Copa da África. Apesar de o grupo das 12 cidades ocupar lugar central nas estratégias de divulgação do Brasil no mundo, nos próximos quatro anos ele certamente não será o único foco. Haverá oportunidade para mostrar a diversidade natural e cultural dos quatro cantos do nosso país, pois muitos municípios sediarão centros de treinamento das seleções, promoverão fanfests e terão as suas estratégias peculiares para atrair turistas para o interior brasileiro. Muitos atributos, no entanto, serão comuns: um país democrático, pacífico, economicamente estável, com condições plenas de desenvolvimento e uma moderna indústria turística. A imagem desse “novo” Brasil, que sacramenta as conquistas recentes do país, será decisiva para criar o interesse de voltar ao país depois de 2014.

REVISTA ECOTURISMO – Apesar da indústria hoteleira em nosso país apresentar um evidente desenvolvimento nos últimos anos, ainda não é suficiente para atender a grande demanda de turistas que se esperam em ocasião da Copa do Mundo de 2014. Como o Ministério do Turismo pretende atuar, a médio e longo prazo, com esta situação?
LUIZ BARRETO – O papel do governo é induzir o desenvolvimento, criar mecanismos para fortalecer o empresariado. Por isso, no eixo da Hotelaria, nossa proposta é criar mecanismos de concessão de crédito com prazos estendidos e taxa de juros especiais, que financiem a reforma, ampliação do parque hoteleiro das cidades-sede e destinos indutores, além da construção de novos hotéis. Uma dessas iniciativas foi a criação da linha de crédito BNDES ProCopa Turismo, no valor de R$ 1 bilhão, que vai trabalhar os conceitos de Hotel Padrão, Hotel Eficiência Energética e Hotel Sustentável, estabelecendo regras diferenciadas para cada categoria. Além disso, já foram negociadas novas regras para utilização de recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte (FNO), Nordeste (FNE) e Centro-Oeste (FCO), em parceria com o Ministério da Integração Nacional, Banco da Amazônia, Banco do Nordeste e Banco do Brasil.

REVISTA ECOTURISMO – Quais as perspectivas para o profissional do turismo para os próximos anos com a realização não só da Copa do Mundo de 2014, mas também dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro?
LUIZ BARRETO – A boa notícia para os trabalhadores da cadeia produtiva do turismo é que as oportunidades de qualificação profissional vão se multiplicar ao longo dos próximos quatro anos. Formar capital humano é valorizar a imagem do Brasil! Até o final de 2013, profissionais de todo o país poderão acessar as 306 mil vagas ofertadas pelo programa Bem Receber Copa, realizado pelo MTur em parceria com as entidades de classe integrantes do Conselho Nacional de Turismo (CNT).

Trabalhadores do receptivo turístico nos 65 destinos indutores são o público-alvo dos cursos reservados para as áreas de alimentação, meios de hospedagem, entretenimento, transporte aéreo regional e locadoras de automóveis. Além disso, o programa Olá, Turista!, criado e executado pelo Ministério do Turismo, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, oferecerá cursos online e gratuitos de inglês e espanhol. Profissionais qualificados vão abastecer a forte oferta de empregos que será desencadeada por esses dois eventos esportivos. Um estudo encomendado pelo Ministério do Esporte estima que os Jogos Olímpicos vão gerar mais de 2 milhões de postos de trabalho no País até 2027: 120 mil empregos por ano, até a realização das Olimpíadas, e 130 mil anuais, a partir de 2016. Essa massa qualificada vai atender, somente durante os 30 dias da Copa de 2014, cerca de 600 mil estrangeiros. O Ministério do Turismo estima que esse número represente mais de 10% do total de viajantes do exterior que o Brasil recebeu durante todo o ano de 2008.

REVISTA ECOTURISMO – Como será a gestão da sustentabilidade para a Copa 2014, considerada a “Copa Verde”?
LUIZ BARRETO – Grandes eventos esportivos podem acelerar grandes obras que são o fundamento para o desenvolvimento e a organização das metrópoles, otimizando iniciativas para a gestão sustentável do país. Uma medida importante foi a implantação do PAC das Cidades Históricas. A ação interministerial pretende estimular o desenvolvimento socioeconômico e cultural brasileiro por meio da revitalização urbana de 173 cidades históricas e da recuperação de seus monumentos e prédios públicos até 2012. Dará contribuições fundamentais para revitalizar a infraestrutura urbana de cidades de valor histórico com grande potencial para o turismo, independente dos eventos esportivos da próxima década. Ao todo, a estimativa é que R$ 890 milhões sejam investidos. Além das 27 capitais brasileiras, 12 cidades contempladas são sedes da Copa do Mundo de Futebol 2014 e 40 municípios são destinos indutores do desenvolvimento turístico regional do país, foco da política de regionalização do Ministério do Turismo (MTur).

Temos outros dois programas que caminham nessa direção. O programa Turismo nos Parques, por exemplo, visa implantar infraestrutura básica para serviços turísticos inicialmente em cinco unidades de conservação ambiental brasileiras e seus entornos (municípios próximos), aumentando o fluxo de visitantes nestes potenciais pontos de visitação, sempre apoiando a preservação de áreas protegidas. O papel do MTur é também o de incentivar o desenvolvimento do turismo em bases sustentáveis, e o de garantir uma ação continuada de promoção para os públicos nacional e internacional. O desafio é sintonizar a dinamização das economias locais e regionais, a preservação das unidades ecológicas, a valorização natural e cultural desses ambientes, e a promoção do ecoturismo. O programa Turismo Sustentável e Infância (TSI) é um projeto do Ministério do Turismo que integra o conjunto de ações definidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a proteção de crianças e adolescentes contra todas as formas de violência. O TSI é uma ferramenta para o enfrentamento da exploração sexual comercial infantil e juvenil nos segmentos do turismo e já permitiu uma mobilização significativa em vários estados brasileiros. Tem como bases o desenvolvimento sustentável, a responsabilidade social corporativa, os direitos das crianças e dos adolescentes e a inclusão social, considerada palavra-chave do Plano Nacional de Turismo.