É imensa a responsabilidade que pesa sobre os ombros dos participantes da Cúpula de Copenhague, o COP 15, que se realizará na capital dinamarquesa entre os dias 7 e 18 de dezembro. Por um lado, os atores desse megaevento terão de se empenhar no estabelecimento de metas e na formulação de políticas voltadas à redução das emissões atmosféricas que hoje contribuem para o agravamento do efeito-estufa; por outro, precisarão tomar cuidado para que os acordos firmados com foco na questão ambiental não se transformem em obstáculos ao desenvolvimento socioeconômico daqueles que hoje precisam trabalhar, comer e viver.

Para entendermos melhor os desafios de Copenhague, vale retroceder 17 anos e retomar alguns pontos da Conferência Rio-92. Convocado pela Assembleia Geral das Nações Unidas para resolver os problemas ambientais que, na época, eram vistos como sinalizadores de risco de um desastre ecológico sem precedentes, aquele encontro já colocava em pauta a urgência de analisar as causas e os efeitos do aumento da temperatura do planeta.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a elevação da temperatura na superfície terrestre ocorre principalmente em razão da queima dos combustíveis fósseis e da redução da cobertura vegetal. E um estudo conduzido por pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), com base em simulações de computador que combinam informações acerca de atividade econômica e processos climáticos, indica que, se não houver mudanças significativas nas políticas governamentais sobre clima, o aquecimento médio será de 5,2 graus Celsius até 2100.

Um aquecimento com tamanha intensidade teria o poder de alterar os climas de todas as regiões do planeta. Ecossistemas inteiros seriam afetados. Nos polos, as geleiras derreteriam, contribuindo para a elevação do nível do mar, o que por sua vez acarretaria transformações severas nas áreas costeiras. Os solos que são úmidos e férteis ficariam mais secos e menos produtivos, enquanto o possível aumento das chuvas nas áreas que áridas e semiáridas levaria um tempo razoável até que pudesse de fato se refletir na melhoria da fertilidade do solo. E tudo isso num quadro em que a população humana seria duas vezes maior que a de hoje!

As tintas fortes que colorem esse quadro de filme-catástrofe poderão ser atenuadas por meio de medidas práticas. E há gestos de boa vontade nesse sentido: vários países europeus parecem dispostos a assumir compromissos sérios no tocante à redução de emissões, a Índia já prometeu lançar 25% menos CO2 na atmosfera num prazo de dez anos e a China, maior poluidora do mundo, acena com reduções de até 45%.

Mas o mais importante é justamente aquilo que os ambientalistas e os formuladores de políticas públicas para o meio ambiente insistem em esquecer: o elemento humano! Afinal, é impossível falar em equilíbrio ambiental sem oferecer saneamento básico e moradia digna aos muitos milhões de pessoas que hoje vivem em condições de extrema penúria. O elemento humano não pode ser desconsiderado quando se debate o desenvolvimento sustentável – conceito baseado na idéia de que é preciso “suprir as necessidades presentes sem prejudicar as gerações futuras”.

Em O Fim da Miséria (2005), o economista norte-americano Jeffrey Sachs, conhecido pela atuação como conselheiro econômico de diversos países da Ásia, África, Leste Europeu e América Latina, estima que, com as medidas adequadas em escala global, a miséria em massa poderia ser extirpada em aproximadamente vinte anos. Para o cumprimento dessa meta ambiciosa, os investimentos anuais teriam que girar em torno de 195 bilhões de dólares.

É um grande volume de dinheiro, mas este é o preço da sobrevivência da humanidade. O motor flex e a sacolinha de supermercado retornável são importantes, mas nem de longe respondem aos desafios de um mundo onde crianças morrem de diarreia ou de doenças associadas à má nutrição.

Seria otimismo demais pensar que da Cúpula de Copenhague sairão as respostas para todos os desafios. Mas esse grande encontro de lideranças apresenta-se como uma oportunidade valiosa para planejar e definir as propostas que, no ano que vem, serão debatidas na Cidade do México, por ocasiões do COP 16. E o Brasil tem uma posição privilegiada nesse contexto: com a maior reserva de água potável do planeta, áreas de floresta ainda intocadas e vasta área agricultável, o País pode e deve negociar soluções que lhe permitam transformar suas riquezas naturais em dividendos para a melhoria de vida do seu povo – não de maneira predatória, é claro, mas obedecendo às diretrizes da sustentabilidade em seus três eixos fundamentais, que são a solidez econômica, o respeito ao meio ambiente e o desenvolvimento humano.

*Antoninho Marmo Trevisan é empresário, educador e consultor, presidente da Trevisan Gestão, Consultoria e Educação e do Conselho Consultivo da BDO, além de membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

Antoninho Marmo Trevisan