Embora o título do filme seja “Lula, o Filho do Brasil”, Luiz Carlos Barreto defende que o presidente “não é o grande personagem” do longa. “Esse filme devia se chamar “Dona Lindu, a Mãe de Lula” na verdade. Ele retrata a história de uma mulher pobre, analfabeta, de grande intuição”, afirma. Glória Pires interpreta Lindu, enquanto Rui Ricardo Diaz é o Lula adulto. A história vai de seu nascimento até a morte da mãe, em 1980, passando pela afirmação como líder sindical e pela fundação do PT. Eleitor de Lula na última eleição, Barreto avalia o governo como “brilhante”, entre “os três melhores da história”, ao lado de Juscelino e Getúlio. (AUDREY FURLANETO)

FOLHA – Apesar de afirmar que não há vínculo político, o senhor vai lançar um filme sobre o presidente em ano eleitoral.
BARRETO – O ano agora é pré-eleitoral, depois vai ser ano eleitoral. No Brasil, tem eleição quase todo ano. Não estou lançando filme sobre nenhum candidato.

FOLHA – Lula não é candidato diretamente, mas…
BARRETO – Se a gente acredita que esse filme é um instrumento eleitoral, a gente está acreditando demasiadamente, eu, todo mundo, os grandes cientistas políticos, que ninguém tem força de transferir voto.

FOLHA – O senhor diz que o filme “humaniza” o presidente. Não seria ingênuo acreditar que isso não afeta o que as pessoas pensam sobre ele?

BARRETO – [O filme] É um épico melodramático, uma história fabulesca. É um menino que nasceu, filho de um cara que não tinha dinheiro para comer, viajou, morou debaixo de ponte em São Paulo e virou o presidente da República. Isso não cabe na cabeça de ninguém. Só se acredita porque é realidade. Não tem nenhum interesse de promoção, de culto à personalidade. O filme não vai criar um mito, o Lula já é um mito. Estamos mostrando que ele é um ser humano com qualidades, defeitos, capacidade de luta, de superação. Não tem exaltação, ao contrário. O grande personagem desse filme não é o Lula.

FOLHA – Então, quem é?
BARRETO – Esse filme devia se chamar “Dona Lindu, a Mãe de Lula”. Ele retrata a história de uma mulher pobre, analfabeta, de grande intuição, inteligência, que consegue resguardar a família de um destino que estaria possivelmente reservado a eles. Ela não queria que nenhum dos filhos virasse nem bandido nem prostituta. O Lula é uma das consequências de dona Lindu. É que está havendo uma inversão, como o filme se chama “Lula, o Filho do Brasil”. Queria mudar o título, mas tem uma cláusula de quando nós compramos os direitos do livro [de Denise Paraná].

FOLHA – Qual é sua intenção com o filme?
BARRETO – O objetivo primeiro desse filme é contar uma bela história, de exemplo. Isso é a boa ação. A ação mesmo é o seguinte: eu quero ganhar dinheiro. Quero tirar a minha empresa do vermelho. Em 45 anos de cinema, essa empresa é um botequim que está no vermelho. Eu fui procurar uma história e encontrei essa. Estou fazendo esse filme para ganhar dinheiro. Estou me lixando para a eleição, de dona Dilma ou de quem quer que seja. Neste momento, estou sendo egoísta, mas tenho motivos para ser: ganhar dinheiro. Fazer um filme que dê multidões. Por isso é que eu falo em 20 milhões.

FOLHA – O senhor acha possível ter todo esse público?
BARRETO – Tem uma história de quando eu fiz “Dona Flor”. Um dia, uma cunhada minha falou: “Por que você não faz um filme sobre esse livro do Jorge Amado?”. Eu perguntei: “Por quê? Nunca li”. Ela: “Já vendeu 500 mil exemplares”. E eu: “Já chegou. Vou fazer”. Sou pragmático, minha filha. Sou nordestino, imigrante igual ao Lula, só que vim num pau de arara aéreo, num avião da FAB, e ele veio de caminhão. Sou um sobrevivente também.

FOLHA – Por que escolheu falar sobre o presidente?

BARRETO – Quando eu fiz um filme sobre o Pelé ou o Garrincha, ninguém me perguntou por quê. Porque era o mesmo fenômeno: Garrincha, meninozinho pobre, que caçava passarinho e virou quatro semanas de páginas do “Daily Express”. O que é que é o Lula se não uma mistura de Garrincha e Pelé na política? Ele está para a política como Garrincha e Pelé estão para o futebol.

FOLHA – O senhor votou nele?
BARRETO – Votei no Lula uma vez só, das quatro eleições. Foi na reeleição. Na época em que ele se elegeu, no primeiro mandato, votei no Fernando Henrique [Cardoso]… não, no Serra! Ele ganhou do Serra, não foi? Eu votei no Serra, na primeira eleição. Eu sempre fui um cearense conservador. Votei no Fernando Henrique duas vezes, votei no Serra, só na última, com o Alckmin, que não dava. [risos] Coitadinho do Alckmin.

FOLHA – O senhor aprova o governo Lula?
BARRETO – Achei o primeiro período muito bom, e o segundo também. Todos os grandes entendidos mostram que o Brasil está entrando nos índices das credibilidades financeiras. Os dois governos do Lula são, na verdade, um pouco resultado de um período de preparação do governo FHC. O governo Lula está entre os três melhores que este país já teve. Juscelino [Kubitschek], [Getúlio] Vargas e Lula.

Folha de São Paulo