A alta dos índices de preços ao consumidor no Brasil nos últimos meses teve como um dos grandes responsáveis o preço dos alimentos.

O gráfico à direita mostra a evolução das variações acumuladas em 12 meses do Índice de Preços ao Consumidor Semanal da FGV, e de um de seus componentes, o item “gêneros alimentícios” nos últimos anos.

O período anterior a 2007 é marcado por variação de preços dos alimentos relativamente baixa quando comparada ao índice de inflação geral. A partir de 2007, a tendência inverteu-se: preços dos alimentos subindo mais do que proporcionalmente ao nível geral de preços.

Os efeitos da crise iniciada em meados de 2008 tornaram o ano de 2009 uma exceção a esse padrão, que foi retomado em 2010. Em 2011, os dados até outubro mostram variações ainda elevadas nos preços de alimentos, mas, desta vez, acompanhadas por altas generalizadas na maioria dos outros itens do IPC-S.

Com a redução do nível de atividade em meio a uma nova ameaça de crise externa, alguns preços já mostram sinais claros de desaceleração, principalmente os dos produtos industrializados.

A evolução da inflação nos próximos meses está muito condicionada às variações de preços dos alimentos, que escondem dinâmicas bem diferentes em seus subitens.

Alguns desses subitens têm dinâmica associada a variações dos preços no mercado internacional (caso de carnes bovinas), enquanto outros estão essencialmente ligados às condições de oferta interna (hortaliças, legumes e frutas).

A dificuldade da projeção desses preços nos próximos meses pode ser avaliada à luz da magnitude de suas oscilações recentes. Para isso, foi construída uma medida de desvio-padrão móvel de 12 meses, com o objetivo de captar a evolução da volatilidade dos vários grupos de preços de alimentos.

Os dois exemplos do gráfico ilustram bem a diferença de padrões. Com a série histórica iniciada em 2003, o desvio-padrão médio do grupo hortaliças e legumes é cerca de seis vezes superior ao do grupo carnes bovinas.

Não coincidentemente, os maiores valores da série para a volatilidade dos preços de carnes bovinas estão em 2008 e em 2009, sendo igualados nos meses recentes de 2011, justamente os períodos marcados por grandes oscilações de commodities no mercado mundial.

Já o grupo hortaliças e legumes tem um pico de volatilidade ao longo de 2010, que cai um pouco ao longo de 2011 para novamente elevar-se nos últimos meses.

Para o grupo gêneros alimentícios como um todo, essa combinação (com a dos demais subitens) leva a um pico de volatilidade nos primeiros meses de 2011, que cai um pouco ao longo do ano, mas ainda representa patamar elevado nos últimos meses quando comparado à média da série histórica.

Isso tudo mostra que tanto do lado do comportamento do mercado internacional quanto do lado das condições de oferta interna para os produtos “in natura” os exercícios de previsão do comportamento dos preços dos alimentos para os próximos meses estão ainda mais difíceis.

PAULO PICCHETTI, 48, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV.

fonte: folha de sp