As descobertas realizadas por Charles Darwin e Alcide d’Orbigny durante suas viagens pelo rio Paraná no século XIX não perderam a validade para a ciência e muito menos para os territórios argentinos que visitaram. Nas viagens pelo leito argentino do rio Paraná, Darwin e D’Orbigny catalogaram várias espécies de animais, melhoraram as descrições geográficas e investigaram as formações geológicas dos terrenos vizinhos.

 

“Darwin e D’Orbigny apresentaram descrições sobre a diversidade animal e a história geológica do território que seguem sendo usadas até hoje”, explicou a pesquisadora Susana García. Susana é membro do Centro Nacional de Pesquisas Científicas e Tecnológicas da Argentina e integrante da expedição Paraná Ra’anga, que percorre os rios La Plata, Paraná e Paraguai.

 

O francês D”Orbigny (1802-1857) começou a percorrer a Argentina em 1828 em uma viagem que o levou do extremo sul da Patagônia até o norte do país, onde chegou pelos rios La Plata e Paraná. Seguindo os passos dele, o britânico Charles Darwin (1809-1882) chegou à Argentina em 1832 a bordo do “Beagle”, o mítico navio em que percorreu a América do Sul e teceu as bases da teoria da evolução. Durante as explorações, os dois competiram sobre a origem das formações geológicas do Pampa, região central da Argentina.

 

Muitas das pesquisas geológicas de Darwin e D’Orbigny foram baseadas no estudo das chamadas barrancas do Paraná, precipícios rochosos vizinhos ao rio entre as cidades argentinas de Santa Fé e Corrientes. Segundo García, para D’Orbigny o Pampa argentino é produto de uma “catástrofe de enorme magnitude” que gerou a “sedimentação de uma grande quantidade de lodo” sobre a extensão do Pampa quando ainda estava submerso.

 

Darwin, no entanto, considerava que a origem do local tinha relação com “movimentos muito lentos de ascensão e descenso da crosta geológica”, já que as barrancas tinham linhas horizontais de diversas cores. Apesar disso, os dois pesquisadores concordavam sobre os métodos de catalogação das espécies a partir de moluscos vivos e mamíferos fósseis que encontraram na Argentina.

 

Desde 1828, D’Orbigny percorreu, por terra, o centro e o sul do país e, em uma pequena embarcação, o trajeto entre Buenos Aires e a província de Misiones (norte) navegando pelos rios La Plata e Paraná. O francês realizou grande parte de sua viagem em um veleiro no qual captou os sons dos animais relatados em suas crônicas, explicou García. Darwin, por sua vez, começou a viagem pelo país em setembro de 1832, acompanhando as expedições hidrográficas do “Beagle” pelas costas da Patagônia, da Terra do Fogo e das Ilhas Malvinas, onde recolheu fósseis de mamíferos extintos.

 

Em agosto de 1833 iniciou o percurso por terra da Patagônia até Buenos Aires, cruzando os terrenos da região do Pampa. Da capital ele seguiu para Santa Fé, 480 km ao norte, onde tomou um navio para retornar ao rio Paraná. Depois, Darwin voltou a Buenos Aires e partiu para Montevidéu (Uruguai), onde embarcou no “Beagle” com destino, novamente, à Patagônia, para depois explorar a costa ocidental da América do Sul.

 

O legado de Darwin e D’Orbigny é fundamental para conhecer a riqueza biológica dos rios que envolvem a Argentina e o Paraguai, um dos objetivos da expedição fluvial de que García participa. Organizada pela Agência Espanhola de Cooperação e pelos centros culturais de Rosário e Assunção, a Paraná-R’anga conta com uma tripulação de 70 artistas, intelectuais e pesquisadores de Espanha, Argentina e Paraguai e pretende reivindicar o rio como patrimônio cultural.

 

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