Com inscrições para oficinas em duas fases, evento alterna atividades artísticas e o partilhamento de saberes, em defesa de valores voltados para a melhoria da vida coletiva

 

 

 

 

Cantos, rezas, rituais, danças e técnicas medicinais de matriz afrodescendente; produção comunitária de hortaliças; reconhecimento dos saberes dos mestres populares e das tradições orais. Reaproveitamento do lixo para compostagem e reciclagem; culinária quilombola e indígena; banquetes públicos e piqueniques; projeção de filmes ao ar livre, redes penduradas nas árvores e espreguiçadeiras esparramadas pelos gramados.

 

Uso de material barato e de baixo impacto ambiental no manejo de tecnologias alternativas de construção; direitos indígenas; ensaios fotográficos como exercício de descondicionamento do olhar. Outros modelos de mobilidade, com ênfase no compartilhamento de bicicletas e no transporte gratuito; midiativismo, jornalismo cidadão e expansão de linguagens e temas na mídia. Ocupações e retomadas urbanas ou rurais; produção experimental de impressos; performances artísticas e celebrações musicais.

 

Durante nove dias, o campus da UFMG se transforma em território livre. Alémdo perfil de encontro de artes que o consagrou, o 46º Festival de Inverno da UFMG torna-se em 2014 um para-raios de questões que impactam a vida em comum e oferece a universidade como espaço de reflexão e diálogo com a cidade e o cidadão.

 

Orientado pelo tema O Bem Comum, o evento acolhe visões múltiplas em torno do compartilhamento de experiências e debate questões que estão na ordem do dia, como a mobilidade, a moradia, a posse e uso da terra, o conhecimento ancestral, o protagonismo da sociedade na produção e circulação de conteúdo e o acesso à mídia.

 

A programação completa do festival estará disponível, até o final de junho, no blog www.46festivalufmg.wordpress.com. Ela alterna oficinas, debates, palestras, assembleias, shows, performances, mostras audiovisuais e ações de perfis variados, com foco no partilhamento de saberes.

 

As atividades começam com um café da manhã coletivo, diariamente, às 9h. Em seguida, 10h, têm início os encontros temáticos. Na volta do almoço, às 14h, o foco se volta para os grupos de trabalho. E no início da noite são realizadas as atividades artísticas, com a projeção de filmes, performances e shows.

 

Os 20 grupos de trabalho estão organizados em cinco núcleos: Campus, Território do Bem Comum; Injó Dya Zuela (Casa do Canto); Aty Guasu (Grande Assembleia Indígena); Parque das Imagens e Ocupa Mídias. As inscrições serão realizadas em duas fases: de 20 a 30 de junho (para atividades do pré-festival) e de 1º a 10 de julho (para todas as demais).

 

Até 1º de julho estão abertas também as inscrições para a apresentação de propostas de intervenção artística durante o festival. Neste caso, a seleção será feita por meio de edital específico, voltado exclusivamente para alunos da Escola de Belas Artes da UFMG. Para mais informações e a ficha de inscrição: http://46festivalufmg.wordpress.com/edital-da-belas-artes-para-selecao-de-10-propostas-para-ocupacao-artistica/

 

De volta a BH

 

O 46º Festival de Inverno da UFMG é uma realização da Diretoria de Ação Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais. Depois de 22 anos de itinerância pelo Estado, o festival concentra novamente suas atividades em Belo Horizonte, de 18 a 26 de julho.

 

“É uma ocasião a ser celebrada”, diz Leda Martins, diretora da DAC. “Além de reintegrar territorialmente o festival à sua casa, ela nos oferece a oportunidade de repensar o seu modelo, rever sua história, integrar nas ações acadêmicas os aportes de sua longa itinerância, potencializar sua inserção nas diretrizes de política cultural da UFMG, criar novos vínculos e parcerias, partilhar sua rica experiência.”

 

Para Leda Martins, “como uma das ações culturais mais relevantes da UFMG, o Festival de Inverno é um acontecimento plurissignificativo, cuja importância e alcance, em suas 45 edições já realizadas, tornam-no um bem comum da própria universidade.”

 

A versão 2014 encerra a Trilogia do Bem Comum, já experimentada nas duas edições anteriores, em Diamantina – onde o festival foi realizado nos últimos 14 anos.

 

Coordenador do festival desde 2012, César Guimarães considera que esta edição “busca implicar a universidade nos dilemas que atravessam os nossos modos de vida em comum, fraturados por persistentes processos de exclusão e de produção da desigualdade.”

 

“Como a universidade poderia romper as cercas e grades que separam-na da sua vizinhança e se inserir nas diversas iniciativas que atualmente buscam reinventar os espaços públicos?”, pergunta Guimarães. “Trata-se, em pequena escala, de inventar a reciprocidade que a universidade deve à comunidade à qual pertence, mas da qual ela própria tantas vezes se defende e se protege”, avalia.

 

A proposta, neste período, é que o campusseja “tomado por ocupações livres e democráticas dos espaços públicos, povoado por formas de sociabilidade e de conhecimento irrigadas pelas múltiplas manifestações da alteridade, em especial aquelas provenientes das culturas indígenas, afrodescendentes e urbanas.”