As recentes chuvas no Nordeste e na Amazônia e as secas no Sul trazem uma dúvida comum: o quanto esses fenômenos climáticos extremos estão associados ao aquecimento global?

Para responder essa pergunta, o jornal Bom Dia Brasil conversou com um dos mais respeitados cientistas brasileiros, o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Bom Dia Brasil – Essa chuva toda no Nordeste, a seca no Sul e a chuva que a gente teve no ano passado em Santa Catarina: muita gente pergunta se isso já é resultado do aquecimento global. Os pesquisadores têm algum consenso em relação a isso?

Carlos Nobre, climatologista – O que nós podemos dizer, hoje já com alguma certeza, é que esse tipo de fenômeno extremo, como chuvas abundantes que quebram recordes históricos na Amazônia e no Nordeste, a seca persistente em partes do Sul e no Uruguai e Argentina, é um quadro muito esperado em um planeta que está em aquecimento. Nós não podemos dizer que isso nunca aconteceu. Já aconteceram várias vezes secas no Sul, associadas com um fenômeno no Oceano Pacífico – o fenômeno La Niña, quando as águas estão mais frias. Chuvas no Nordeste e na Amazônia também associadas também com La Niña e com o Oceano Atlântico que, ao norte costa brasileira, está muito quente. Esses fenômenos estão muito intensos, mais do que ocorria no passado. Esse é um quadro muito característico de um planeta que está se aquecendo.

Então, o que caracteriza isso tudo é o fato de o fenômeno estar intenso e não o fato de ter a chuva no Nordeste que é uma coisa que já acontece. Em quanto tempo, a gente pode dizer com certeza se são fenômenos naturais isolados, como a gente vê em algumas situações, ou se já é interferência do homem na natureza?

Para muitas partes do planeta e também no Brasil, quanto a gente olha as chuvas no Sul como um todo e compara as chuvas nos últimos 10 anos na região sul com 50 anos atrás, nós já podemos dizer que as pancadas de chuva muito intensas têm a ver com o aquecimento global. Elas acontecem, porque o planeta e também o Brasil estão mais quentes. Tivemos uma seca muito intensa na Amazônia em 2005. Quatro anos depois, nós temos essas inundações que quebram recordes históricos de 107 anos no Rio Amazonas. Então, isso já tem toda característica. O aumento da intensidade desses fenômenos que são naturais tem a ver com o fato de que o planeta está mais quente.

Fonte: Globo Amazônia, com informações do Bom Dia Brasil