Empresa aposta 200 milhões de dólares em novas empresas a procura do próximo negócio revolucionário – e bilionário

Bill Maris (primeiro à esquerda) acompanha novos projetos no escritório da Google Ventures, em Moutain View, Califórnia (Peter DaSilva/The New York Times)

Bill Maris (primeiro à esquerda) acompanha novos projetos no escritório da Google Ventures, em Moutain View, Califórnia (Peter DaSilva/The New York Times)

O Google acha que pode ser jovem e louco de novo. E está apostando US$ 200 milhões nisso.

No mercado em maior evidência para novas empresas de tecnologia por uma década, a revolução no Vale do Silício está investindo capital de risco em uma corrida para descobrir o próximo Facebook ou Zynga.

Outras empresas de tecnologia de renome estão fazendo o mesmo, ao passo que dólares de capital de risco aproximam-se de níveis observados pela última vez na era da bolha pontocom de 2000.

Para alguns, é um sinal indicativo de um setor superaquecido, sintoma de uma corrida tardia e mal aconselhada para investir em tempos bons. Mas o Google diz que tem uma arma para guiá-lo ao escolher investimentos – uma arma secreta do Google, que significa usar algoritmos com base em dados para analisar um possível sucesso futuro.

Não faz mal que frequentemente haja poucos dados, pelo fato das empresas serem muito novas e a maioria das corretoras de risco dizerem que investir é mais arte do que ciência. No Google, até a arte é quantificável.

“Investir é estar em um quarto escuro, tentando encontrar a saída”, disse Bill Maris, sócio diretor da Google Ventures, divisão de investimento corporativo. “Se você tem um fósforo, deveria acendê-lo.”

Fundos de risco corporativos investiram US$ 583 milhões em empreendimentos de projetos nos primeiros três meses deste ano, de acordo com a National Venture Capital Association, frente a US$ 443 milhões no mesmo período do ano passado e US$ 245 milhões em 2009, antes dos investimentos em tecnologia começarem sua rápida reviravolta. Hoje, 10% dos dólares de capital de risco vêm de corporações, aproximando-se do nível de 15% na antiga bolha em 2000.

Facebook, Zynga e Amazon.com estão investindo em empreendimentos de mídia social. A AOL Ventures recomeçou ano passado após três tentativas anteriores e a Intel Capital espera investir mais este ano, comparando com os US$ 327 milhões investidos no ano passado. A Google Ventures diz que investiu a mesma quantia na primeira metade deste ano, comparada ao último ano inteiro e Larry Page, co-fundador da empresa que se tornou chefe executivo este semestre, prometeu manter os cofres bem abertos.

Divisões de capital de risco partiram antes para a ação, em épocas de expansão, como o começo dos anos 1980 e o final dos anos 1990, mas tiveram resultados variados.

“Quando os caras corporativos se envolvem, normalmente significa que estamos no topo do mercado”, disse Andrew S. Rachleff, que ensina capital de risco em Stanford e foi fundador da empresa de risco Benchmark Capital. Rachleff também questionou a confiança do Google em seus algoritmos. “Não há análise a ser feita quando se está avaliando uma empresa que está criando um novo mercado, pois não há mercado para se analisar” disse ele. “Tem de usar o julgamento.”

Apesar de até Maris comparar investimento de risco com “comprar bilhetes de loteria”, o Google diz que tem fé nos seus algoritmos. Ao mesmo tempo, está dando um passo pitoresco, provendo aos projetos escolhidos acesso a seus 28.770 funcionários para engenharia, recrutamento e aconselhamento empresarial, e oferecendo espaço de escritório no Googleplex e aulas de como montar um negócio.

Segundo Bill Maris, o chefe-executivo Larry Page, que recusou pedido de entrevista, já prometeu ao Google Ventures US$ 200 milhões este ano e diz que uma quantia virtualmente ilimitada está disponível, com a empresa se reconectando com as raízes dos seus primórdios. “Tive conversas com Larry quando ele diz: ‘Faça aquilo que puder, tão rápido quanto puder e da forma mais ampla e rompente’”, disse Maris.

O Google diz que sua abordagem está valendo a pena. Um de seus investimentos, o ngmoco, foi adquirido por uma empresa japonesa de jogos, a DeNA, por US$ 400 milhões, e outro, o HomeAway, para alugar casas para férias, recebeu calorosas boas-vindas de investidores quando abriu seu capital em junho. Um terceiro, a Silver Springs Network, empresa de rede inteligente, solicitou a abertura de seu capital para julho.

A Google Ventures investe em áreas diversas – internet, biotecnologia e tecnologia limpa. Coloca grandes quantias de capital em empresas maduras, mas também está investindo quantias pequenas em cem novas empresas este ano.

Para fazer suas escolhas, a empresa construiu algoritmos de computador usando dados de antigos investimentos de risco e literatura acadêmica. Por exemplo, para empresas individuais, o Google insere dados sobre quanto tempo os fundadores trabalharam na criação da empresa antes de ganhar dinheiro e se os fundadores criaram empresas bem-sucedidas no passado. Ele também coleta informações similares de investimentos potenciais antes de dar um sinal vermelho, amarelo ou verde.

O Google diz que os algoritmos ensinaram lições valiosas, das mais óbvias (empreendedores que começaram empresas bem-sucedidas têm mais chance de fazê-lo novamente) às menos óbvias (criações localizadas longe do escritório da corretora de risco tendem a ser mais bem-sucedidas, provavelmente porque a empresa tem de sair de seu caminho para financiar o empreendimento).

Empreendimentos apoiados pelo Google Ventures podem funcionar em uma área de 1.858 metros quadrados no Googleplex, abastecidos com uma mesa de ping-pong e uma cozinha cheia de petiscos. Em troca, fazem uma doação de 5 dólares por mês para o fundo de churrasco.

Mas a empresa oferece muito mais que espaço, dizem os empreendedores escolhidos. A empresa de biotecnologia Adimab está usando o espaço livre dos enormes servidores do Google. O site de ensino de inglês EnglishCenttral testou seu curso e sotaques para praticantes japoneses com funcionários do escritório do Google no Japão. O Google compartilhou uma lista de contatos de chefes de informações de aeroportos com a SCVNGR, empresa de jogos móveis, quando ela buscava parcerias com aeroportos.

Craig Walker, empreendedor em série que recentemente criou o Firespotter Labs, apoiado pelo Google Ventures, disse que um recrutador do Google o ajudou a contratar engenheiros.

“Muitas vezes, empresas virtuais dirão ‘Não somos apenas dinheiro, somos valor agregado’, e sempre duvidei dessas afirmações”, disse Walker. “Com a Google Ventures, essas alegações são completamente justificáveis.”
Ainda assim, alguns empreendedores que trabalharam com o Google Ventures dizem que a inclinação do Google de analisar tudo exaustivamente, mesmo para pequenos investimentos em empresas não existentes, retarda o processo de investimento, quando comparado a outras companhias.

A Google Ventures também recorre a funcionários do Google para encontrar ideias para investirem. Oferece US$ 10 mil para quem sugerir um empreendimento que resulte em investimento. E a empresa investiu em três dos antigos funcionários do Google que deixaram a empresa, com o crescimento do negócio.

“É irônico que eu esteja conduzindo um negócio de risco agora”, disse Maris, “pois perdi a maior ideia de risco de todos os tempos”.

 

Fonte:VEJA