Quando as temperaturas começam a cair na região Sudeste, a população da pequena Monte Sião (MG) dobra a cada fim de semana. São até 20 mil visitantes que chegam à cidade de carro ou em ônibus fretados em busca das malhas produzidas na cidade.

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Juca Varella/Folhapress
Ruas da região central de Monte Sião ficam tomadas por lojas de malhas, que lotam de visitantes
Ruas da região central de Monte Sião ficam tomadas por lojas de malhas, que lotam de visitantes

Segundo empresários locais, quase 80% dos visitantes que lotam Monte Sião vêm de São Paulo. Muitos deles, são comerciantes que revendem as malhas na capital paulista –que fica a cerca de duas horas de carro.

É o caso da lojista Ana Amélia Beltrão, 32, que tem duas butiques em São Paulo. “Aqui é o paraíso. Encontro produtos de muita qualidade a preços incríveis”, diz ela, que afirma vender por R$ 130 blusas que compra em Monte Sião por R$ 20. “E as clientes acham o preço ótimo.”

Monte Sião atrai também os consumidores finais. É o caso de Angélica Gomyde, 35, que diz já estar comprando os presentes de Natal.

“Vim visitar parentes mineiros e aproveito para passar aqui.”, disse, cheia de sacolas.

Todas as ruas da região central da cidade ficam tomadas por lojas de malhas, que lotam. Quase não há outro tipo de comércio, como padarias e farmácias. Os restaurantes precisam colocar funcionários na rua, para organizar a fila de clientes.

“É uma loucura total, a cidade não tem estrutura para receber tanta gente. Mas as ofertas são incríveis”, afirmou a comerciante paulistana Josefa Áurea, 45, na fila para comer. “Eu queria comer na estrada, mas quero comprar mais à tarde e preciso de forças”, disse.

Para aliviar a espera de maridos, a prefeitura da cidade colocou bancos de praças nas principais ruas comerciais.

“Elas vêm, pedem para passar em só mais uma loja, só mais cinco minutos [comprando]. Mas estou nisso desde 8h da manhã”, disse no meio da tarde o bancário Arialdo Assumpção, 55, de Belo Horizonte. Ele levou a mulher e as duas filhas para um sábado de compras na cidade.

O DINHEIRO QUE VEM DO FRIO

Empresas maiores faturam alto, já que o setor de malhas de Monte Sião movimenta cerca de R$ 120 milhões por ano, segundo a prefeitura. Mas os pequenos empreendedores também querem ganhar e qualquer fundo de quintal vira uma malharia.

Garagens e áreas externas se tornam lojas improvisadas na temporada de inverno.

O setor emprega 7.500 pessoas, quase toda a população economicamente ativa da cidade que tem 21 mil habitantes.

Cerca de 1.500 trabalhadores vêm de cidades vizinhas, principalmente Lindoia (SP), a 16 km, para dar conta da demanda de mão de obra, afirma João Tadeu Machado, presidente da Associação Comercial e diretor de Indústria e Comércio de Monte Sião.

Com o fim do inverno, as ruas ficam mais vazias, mas o trabalho continua acelerado. “Em agosto, começamos a coleção 2012”, diz Rodrigo de Castro, 38, que fabrica 5.000 peças por mês em sua oficina.

Além de lojas e malharias, as ruas de Monte Sião também estão cheias de histórias de sucesso, como a do empresário Fábio Pennacchi, 40. No ramo há 20 anos, ele começou bordando malhas de terceiros e hoje pensa em ampliar a oficina, onde produz 4.000 peças mensalmente.

“Como todo pequeno negócio no Brasil, é sacrificante. Trabalho das oito da manhã às onze da noite, mas vale a pena. Consigo sustentar bem a família, pagar a faculdade dos filhos”, diz.

Pennacchi é um dos descendentes de italianos que, ao imigrarem para trabalhar em lavouras de café do sul de Minas, levaram a tradição do tricô para a região.

Desde a década de 1970, quando tinha 6.000 habitantes e ainda vivia da agricultura, a cidade é conhecida como a capital do tricô. A profissionalização do setor, porém, só veio a partir de 1990, com a importação de maquinário.

Hoje, os empresários viajam para Nova York, Paris e Milão para estudar as tendências das próximas estações. Eles produzem também para grandes redes de lojas, como C&A e Zara.

Movimento nas ruas da cidade mineira que é capital nacional do tricô

Movimento nas ruas da cidade mineira que é capital nacional do tricô

 

Fonte: VEJA