*Antonio Carlos Pannunzio

A crise energética que aflige a Venezuela terá, no curto prazo, repercussões sobre o Estado de Roraima, afetando sua capital, Boa Vista, e os municípios de Cantá, Iracema, Mucajaí, Alto Alegre e Bonfim, cujo suprimento de eletricidade é garantido, principalmente, pelo linhão de 678 km entre a principal usina geradora venezuelana, a Central Hidroelétrica Simon Bolívar, no Rio Caroni, conhecida como a represa de Guri e a capital roraimense.

Construída a 100 km da desembocadura do Rio Orenoco, a hidrelétrica de Guri, concluída em 1986, é a segunda do mundo, depois de Itaipu. Gera 70% da eletricidade produzida na Venezuela e, em circunstâncias normais, sua proprietária, a estatal venezuelana Edelca, vende à brasileira Eletronorte um total de 97 megawatts/hora que, através de duas distribuidoras, atendem o consumo de cidades de Roraima.

A Venezuela é o quarto produtor mundial de energia elétrica, mas, neste momento, em função de uma longa estiagem, associada ao fenômeno climático El Niño – que atinge, inclusive, os Estados da Região Norte do Brasil-, os índices do reservatório de Guri baixaram drasticamente, o que levou o país a conviver com constantes interrupções do suprimento de energia e a reduzir o fornecimento contratado com o Brasil.

Em caráter emergencial, a Eletronorte deverá recolocar em operação as unidades termelétricas da usina de Floresta, em Roraima, desativadas em 2001, cuja operação depende de uma sintonia fina com a Petrobras, que abastecerá a usina com 1,7 milhões de litros de óleo diesel e manterá em seu reservatório, em Caracaraí (RR), outros 5 milhões do combustível para casos emergenciais em que o suprimento de diesel, vindo de Manaus, sofra alguma interrupção.

É importante que o Brasil renove o contrato para compra de energia elétrica da Venezuela, que termina em 2017. Mas é indispensável que, também, repense a integração energética da sua Região Norte, priorizando a construção de hidrelétricas em território brasileiro como a de Cotingo, que poderia ser ligada a Boa Vista por um linhão de 280 km (Via Surumu) ou 240 km (Via Passarão), nas duas hipóteses como área plana na quase totalidade do projeto. Num segundo momento, na medida em que as idiossincrasias políticas entre os países amazônicos tornem isso possível, será conveniente projetar uma integração supranacional de sistemas hidrelétricos, medida de interesse comum de suas populações.
Essas e outras possibilidades têm sido descartadas por razões que, em última instância, traduzem uma vacilação do Executivo brasileiro em usar os recursos naturais do País em benefício de áreas de seu território nas quais, em função disso, o desenvolvimento claudica.
Deputado federal, especializado em relações exteriores e defesa nacional, membro da CCJ, foi líder de bancada e presidente do Diretório Estadual do PSDB/SP.