Ontem, quando o veleiro Sony Handycam encaminhava-se para a largada da 36ª Semana de Vela de Ilhabela (SP), o leme estava nas mãos de Júlia Pessini, 14. Preparando-se para a mesma prova, o veleiro Orson trazia em sua tripulação de nove homens o garoto Matheus do Amaral, 13, ocupado com a regulagem das velas. A presença desses adolescentes a bordo de veleiros de uma competição que reúne cerca de 200 barcos e 1.600 velejadores é possível devido a uma regra sugerida pelo velejador olímpico Jorge Zarif Neto.

Em 2000, preocupado com a renovação na vela, ele propôs que cada barco poderia inscrever, com isenção de taxa, um tripulante menor de 15 anos e com peso inferior a 55 kg.

Júlia e Matheus, além de serem tripulantes mirins em veleiros da principal classe na semana de vela, começaram a velejar no Projeto Navegar, parceria da Prefeitura de Ilhabela com empresas privadas.

O projeto oferece aulas de vela para cerca de 120 jovens de sete a 15 anos da rede pública de ensino. Quando eles têm a oportunidade de participar de uma grande regata, o aprendizado se intensifica.

“Aprendi muito sobre táticas, novas estratégias e sobre como me relacionar com outros barcos durante a regata. Evoluí muito depois que comecei a velejar com eles, passei a velejar melhor o meu próprio barco”, conta Júlia à Folha.

A presença de um tripulante-mirim também é muito útil para a embarcação. Como são jovens e leves, eles são as pessoas mais indicadas para resolver pequenos problemas a bordo durante a navegação, pois sua circulação pelo convés não atrapalha o equilíbrio do barco.

A regra também ajuda na formação da nova geração de velejadores. “Quando eu crescer, quero levar tripulantes mirins comigo. Vou ensinar o que aprendi e dar a eles a oportunidade que tive”, diz Matheus.

Felipe Caruso
Folha de São Paulo