Pessoas com quem a senadora Marina Silva (PT-AC) conversou sobre os planos políticos que mudam o cenário da sucessão presidencial de 2010 dizem que a candidatura já conta até com um epíteto: “força tranquila”. Semelhante ao slogan usado pelo ex-presidente socialista francês François Mitterand (1981-1995), as palavras também evocam uma espécie de avesso da pré-candidata petista Dilma Rousseff.

“As pessoas pensam, isso é bom”, comentou Marina sobre o slogan anteontem, quando deu por encerradas as consultas sobre a mudança de partido e a consequente candidatura à Presidência da República. A decisão está para ser anunciada durante a semana, em etapas. “Não quero falar como candidata”, ponderou, sem esconder que são pequenas as chances de uma recusa: “Aos 51 anos, está na hora de ser mantenedora de utopia”, resumiu.

O projeto da candidatura Marina começou a ser construído no início de julho, quando o Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) fez pesquisa de opinião para o Partido Verde. “Foi uma surpresa, a Marina se mostrou uma candidata competitiva”, comentou o coordenador do instituto e cientista político Antonio Lavareda, que participou das campanhas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ainda hoje faz pesquisas para o PSDB e o DEM. “O [governador José] Serra não tem nada a ver com essa pesquisa, isso é fantasia, teoria conspiratória”, reagiu, questionado se a pesquisa contara com patrocínio tucano.

O resultado do levantamento, com cenários que dão a Marina entre 10% e 27% das intenções de voto, foi apresentado à senadora em 29 de julho. Mas na primeira pesquisa Datafolha que incluiu o nome de Marina, ela obtém 3%.

“Pedi reserva [sobre o convite], mas vazou e isso acelerou as conversas”, contou a senadora. Ela prometeu uma resposta antes do prazo fixado pela legislação para a troca de partido, que se esgota no início de outubro.

“Capim”
A ideia de uma candidatura ao Planalto não era propriamente uma novidade. Marina fora saudada como candidata em vários encontros de ambientalistas e de mulheres, público que ela mesma considerava restrito.
O deputado Zequinha Sarney (MA), líder do PV, se diz autor do primeiro convite, quando ela ainda era ministra do Meio Ambiente. Marina deixou a pasta em maio de 2008 para chamar a atenção das pressões que ameaçavam o combate ao desmatamento na Amazônia.

Mas o convite formal do PV apareceu quando a senadora já discutia a hipótese de nem disputar um terceiro mandato. Não a estimulava a ideia de mais oito anos no Senado. Por isso, segundo Marina contou à Folha, já mantinha contatos com o “Brasil Sustentável”.

A página do movimento na internet diz que se trata de “uma ampla articulação nacional da sociedade civil, inclusivo e suprapartidário, voltado para a construção de uma nova visão de país, com o objetivo de colocar a sustentabilidade no centro das decisões estratégicas”. Entre os integrantes está o empresário Oded Grajew, um dos primeiros a apoiar a candidatura de Lula ao Planalto.

Essa disposição de deixar a política partidária Marina explicava com uma frase: “Prefiro ser capim na relva a ser bonsai num palácio”.

Antes mesmo de responder ao convite, Marina cuidou de dar as linhas gerais de sua suposta candidatura. Nas últimas duas semanas, deixou claro que o ambiente não será tema único de campanha. Ela seria candidata de um projeto de desenvolvimento sustentável para o país, que envolva as preocupações do aquecimento global. Um de seus principais desafios, por ora, é pôr de pé um esboço de programa do PV e para a candidatura. Até isso acontecer, a candidatura será tratada por ela como uma possibilidade. Essa etapa pode consumir o resto do ano de 2009. Se candidata, Marina também disse não fará ataques nem a Lula nem ao ex-presidente FHC e insistiu que não pretende fazer política “contra”.

Os desafios à candidatura são bem maiores do que só construir um discurso e se fazer mais conhecida. Marina sabe que terá de montar uma aliança política para aumentar o tempo de campanha na televisão. Sozinho, o PV teria menos de dois minutos. E, mesmo pequeno, tem problemas como o PT. “Não tenho a ilusão de que o PV é um partido perfeito”, disse.

Marta Salomon
Folha de São Paulo