Duas novas espécies de lagartos são os frutos mais recentes de pesquisas sobre a biodiversidade dos campos rupestres da Chapada Diamantina, ambiente que se caracteriza pelo grande número de animais e plantas que só existem por lá. E um dos responsáveis pela descrição dos répteis avisa: ele já tem mais três potenciais novas espécies em identificação.

“Entre anfíbios e répteis, várias espécies foram descritas recentemente e outras tantas ainda estão por ser descritas”, conta José Cassimiro, doutorando do Departamento de Zoologia da USP.

A diversidade desconhecida da região é tamanha que os dois novos bichos foram achados no mesmo município -Mucugê, na Bahia. Cassimiro e seus colegas da USP e da Universidade Estadual de Santa Cruz (BA) batizam os bichos, o Acratosaura spinosa e o Gymnodactylus vanzolinii, em dois artigos na revista científica “Zootaxa”. Ambos habitam elevações em torno de 1.000 m, nas áreas rochosas e de vegetação rasteira que caracterizam os campos rupestres. São criaturas de apenas 12 cm de comprimento, mas de aparência singular.

O A. spinosa ganhou o nome de “espinhoso” em latim por causa das escamas com quilhas, protuberâncias que dão ao bicho uma aparência áspera. Os machos possuem poros característicos nas coxas e nos genitais, pelos quais são produzidas substâncias que, acredita-se, possam atrair parceiras ou marcar território.

Já o G. vanzolinii, apesar de suas belas listras no dorso, é um primo relativamente próximo da lagartixa “doméstica”. “A lagartixa que conhecemos é originária da África, possivelmente trazida em navios negreiros”, conta Cassimiro.

No artigo em que descrevem o G. vanzolinii, o biólogo e seu orientador, Miguel Rodrigues, aproveitam para esclarecer um equívoco do zoólogo e compositor Paulo Vanzolini, que já estudou lagartos do gênero. Uma das espécies batizadas por ele, a G. carvalhoi, não seria válida.

“Até 2005, só havia uma subespécie de Gymnodactylus no cerrado, a G. g. amarali. Vanzolini, baseado em um exemplar jovem e com pele danificada do Maranhão, concluiu que ela só ocorria lá, elevou-a à condição de espécie e resolveu colocar todos os outros exemplares do cerrado numa nova espécie, a G. carvalhoi. Ao examinar esse animal, vi que ele não se diferencia dos do resto do cerrado”, explica Cassimiro.

Parece um detalhe sem importância, mas um inventário preciso é essencial para entender uma fauna tão única -e ameaçada. “Em campo, a gente constata que esse tipo de ambiente vai pelo mesmo caminho que os nossos outros biomas”, lamenta o pesquisador.

“Plantações de eucalipto já são comuns em algumas áreas”, afirma. Além disso, áreas montanhosas podem ser especialmente vulneráveis a mudanças trazidas pelo aquecimento global. “Mas ainda é cedo para saber quais seriam os danos a esse ambiente.”

Procurado pela Folha, Vanzolini não quis comentar o estudo. “Não se faz debate científico em meio [de comunicação] para leigo”, declarou.

Reinaldo José Lopes
Folha de São Paulo