Universitários de todo o país vão às ruas para protestar contra o Congresso, que tem ignorado interesses da sociedade nos debates e votações sobre as mudanças na legislação ambiental

Bruno Taitson, de Brasília

Protagonista em diversos momentos da história do Brasil, o movimento estudantil não tem se omitido diante das tentativas de destruir a legislação ambiental brasileira, orquestradas por setores retrógrados do agronegócio e executadas pelas bancadas ruralistas da Câmara e do Senado. Universitários têm participado ativamente de diversas marchas e manifestações contras as mudanças no Código Florestal, deixando claro que o Congresso Nacional não tem representado os interesses do país neste debate.

Centenas de estudantes, dos estados do Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, chegaram de ônibus no dia 29 de novembro à Esplanada dos Ministérios, para protestar contra as propostas de alterações no Código. Alexandre Anésio, Bianca Villa e Jéssica da Silva estudam na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), e encararam 13 horas de viagem até a Capital Federal.

Segundo Jéssica da Silva, que estuda Gestão Ambiental, é fundamental que não apenas estudantes, como todos os setores da sociedade, saiam às ruas para impedir que o processo siga sem transparência. “A sociedade tem direito a informação correta e a participar das discussões. Não basta agirmos por rede social, temos que estar presente nas ruas”, relatou.

Para Alexandre Anésio, que também cursa Gestão Ambiental na Esalq-USP, o principal problema do substitutivo que será votado no Senado é a falta de embasamento técnico-científico. “Existem vários estudos de pesquisadores, como os professores Gerd Sparovek e Ricardo Rodrigues, da Esalq, que não estão sendo considerados. Precisamos de um texto que dialogue com todos os atores sociais, e não apenas com o agronegócio”, avaliou.

Bianca Villa, estudante de Biologia, questiona a anistia a crimes ambientais, concedida pelo atual projeto. “Não se pode permitir, por exemplo, a consolidação de atividades em mangues, que são verdadeiros berçários naturais. Os topos de morro também são extremamente vulneráveis e precisam ser protegidos, para que tragédias sejam evitadas”, analisou.

O estudante Bruno Pereira, do curso de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), tem participado das manifestações contrárias às mudanças no Código na Capital Federal. Assim como outros universitários, ele foi, em algumas ocasiões, impedido pela Polícia Legislativa de assistir a discussões e de se manifestar a respeito do tema no Senado.

“Precisamos mostrar que estamos contra o que está sendo aprovado. Uma pesquisa já mostrou que 80% dos brasileiros são contra. Estudantes, pesquisadores, agricultores familiares e ambientalistas estão na rua se manifestando. O que o Congresso está fazendo não é política, é politicagem”, concluiu Bruno Pereira.

Está prevista nova mobilização de estudantes no Congresso nesta terça, 6 de dezembro, a partir das 14 horas, em frente à entrada da chapelaria. A manifestação acontece na mesma data para a qual está marcado o início da votação do substitutivo pelo plenário do Senado. Se aprovado, o texto volta para a Câmara em segundo turno e, posteriormente, será submetido à sanção ou ao veto da presidente Dilma Rousseff.

© WWF-Brasil/Bruno Taitson
© WWF-Brasil/Bruno Taitson
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fonte: WWF