Reinaldo Canto*
Foram duas semanas de trabalho intenso, muitas expectativas e um final decepcionante? Não, não é assim que quero deixar registrada a minha participação na COP-15 em Copenhague. É preciso fazer uma análise se não de Poliana, mas que mantenha uma boa distância da opinião daqueles que acreditam ver nos resultados da conferência o fim da linha na luta contra as mudanças climáticas.
Baixar a guarda e jogar tudo para o alto, talvez seja o caminho mais fácil e natural, se considerarmos todos os prognósticos até chegarmos a fatídica e última semana do encontro.
Pois foi um grande banho de água fria. Ainda mais ao lembrar que durante o período que estivemos em contato direto com os participantes das mais variadas matizes, muitos com larga experiência nesse tipo de conferência, eram possíveis de serem encontradas opiniões diversas, mas em praticamente todos os casos havia algum otimismo. Fiz várias entrevistas e elas demonstravam com quase unanimidade que Copenhague teria um acordo, não o acordo dos sonhos, mas algo acima do razoável.
Os experientes negociadores brasileiros, por exemplo, acreditavam nesse bom acordo e, claro, com muitas lacunas em aberto que seriam solucionadas ao longo do próximo ano. Ninguém apostava num acordo “corajoso, ambicioso e com força de lei”, como pregavam os países em desenvolvimento e os manifestantes das ONGs que diariamente pressionavam as lideranças mundiais a assumir compromissos efetivos. Mesmo assim, não havia quem apostasse num acordo tão tímido.
Ao final, o interesse particular prevaleceu de maneira pouco inteligente, pois a ausência de um acordo global de redução das emissões de gases de efeito estufa vai custar mais caro em recursos, em vidas e em riquezas da biodiversidade do planeta.
Mas, como diziam os velhos militantes da esquerda brasileira: – a luta continua, companheiro! Copenhague não era a última trincheira dessa batalha, outras virão. O que precisa ficar bem claro é que a COP-15, mostrou de maneira muito clara, a importância e a urgência que o tema das mudanças climáticas passou a ter na agenda das discussões mundiais.
A participação de 5 mil jornalistas do mundo todo, mais de uma centena de chefes de estado e milhares de integrantes de delegações nacionais e organizações da sociedade civil comprovaram o sucesso desse encontro. Os semblantes carregados dos líderes mundiais ao falar do aquecimento global não deixam dúvidas: a busca pelo desenvolvimento sustentável, ou melhor, menos insustentável está na ordem do dia e assim irá permanecer ao longo dos próximos anos.
*Jornalista, consultor e palestrante, foi correspondente da Envolverde na COP-15 em Copenhague