Por DAVID PEISNER

Será que álbuns beneficentes ainda conseguem conscientizar e levantar fundos?

O álbum beneficente que comemora neste ano o 50° aniversário da Anistia Internacional, “Chimes of Freedom”, -canções de Bob Dylan cantadas por um elenco que atravessa gêneros e gerações- é um pacote de quatro CDs, com 73 faixas (76 on-line).

Mesmo uma lista apenas parcial dos colaboradores é de fazer o queixo cair: Sting, Adele, My Morning Jacket, Pete Townshend, Elvis Costello, Johnny Cash, Cage the Elephant, Kesha, Miley Cyrus e a cantora e compositora mexicana Ximena Sariñana. Com a exceção de uma, todas as canções são inéditas. Mas a grande lista de participantes criou um desafio.

“Hoje em dia está difícil convencer as pessoas a comprar um CD, que dirá quatro”, explicou Julie Yannatta, que, com Jeff Ayeroff, produziu o álbum.

No fim dos anos 1970 e início dos anos 1980, a Anistia Internacional promoveu shows intitulados “The Secret Policeman’s Balls”, que Bono já citou como fundamental para despertar sua consciência social. Em 1986, a Anistia começou a promover turnês com artistas como U2 e Bruce Springsteen, que ajudaram a popularizar suas causas.

Nos últimos dez anos, porém, as vendas de música caíram 50%, na medida em que os serviços streaming, a pirataria, o iTunes e outras inovações mudaram o modo como a música é consumida.

Yannatta percebeu que, para o novo projeto, “teríamos que nos virar com menos e ser criativos”.

Os artistas, produtores e engenheiros doaram seu trabalho. Bob Dylan doou seus royalties de publicação. Com isso, foi possível conseguir um preço atraente: o pacote de quatro CDs é vendido no varejo por US$ 24,99 e, na internet, por US$ 19,99. Cada canção também está disponível individualmente on-line.

Em 1995, a organização beneficente britânica War Child levantou quase US$ 2 milhões com seu primeiro álbum, “Help”. Seu esforço beneficente de 2009, “Heroes”, rendeu mais de US$ 300 mil.

Agora, disse Ben Knowles, o diretor de arrecadação de fundos da War Child, “o esforço é montar uma compilação de 15 faixas para pessoas que compram quatro”.

A Fundação Red Hot, que beneficia organizações de caridade que atuam com a Aids, está experimentando uma abordagem mais focada. Seu primeiro esforço, de 1990, “Red, Hot & Blue” vendeu mais de 1 milhão de cópias. Sua compilação de dois CDs de rock indie, em 2009, “Dark Was the Night”, não vendeu tão bem, mas, por ter custos de produção e marketing mais baixos, ainda assim levantou mais de US$ 1,2 milhão.

No caso de “Chimes of Freedom”, “queríamos pessoas diversificadas”, falou Ayeroff. “Se você curte todas as 76 canções, ótimo. Mas, se gostar de apenas 20, ainda assim será uma pechincha”, a US$ 1,29 a faixa.

No entanto, alguém que comprar uma faixa única da iTunes não vai receber informações concretas sobre a Anistia Internacional. Erin Potts, diretora da Air Traffic Control, organização sem fins lucrativos que presta consultoria sobre ativismo relacionados à música, diz que os álbuns beneficentes podem funcionar como parte de planos mais amplos de arrecadação de fundos.

“É importante tornar os álbuns mais específicos, criando uma estratégia de engajamento em torno deles”, ela afirmou. Esta pode incluir “pacotes especiais para fãs dispostos a gastar mais dinheiro por uma boa causa”, além de uma oportunidade de reunir os contatos de consumidores.

A organização sem fins lucrativos Music for Relief, formada pela banda Linkin Park, fez algo parecido quando lançou a campanha “Download to Donate”, após o terremoto de 2010 no Haiti. Uma doação dava acesso a uma lista de canções de vários artistas. Três compilações já levantaram mais de US$ 400 mil.

No caso de “Chimes”, as expectativas são mais modestas. O público de uma coleção de covers de Bob Dylan tende a ser formado por fãs mais velhos, que ainda têm o hábito de comprar álbuns. Mas Ken Kragen, produtor de “We Are the World”, argumenta que há um aspecto negativo.

“Toda organização humanitária quer atrair jovens entusiastas para sua causa”, ele explicou. “Hoje, com as mídias sociais, é preciso aproveitar as maneiras como os jovens ouvem, compram e compartilham música.”

A Anistia Internacional não ignora esse novo paradigma. Em dezembro, ela colocou o novo álbum em sua página no Facebook e vídeos no YouTube.

fonte: folha de sp