O responsável das Nações Unidas sobre Mudança Climática, Yvo de Boer, disse que a rodada de negociações em Bonn, na Alemanha, que terminou nesta sexta-feira, teve “avanços importantes”, apesar das críticas dos países em desenvolvimento.

O grupo da ONU formado atualmente por 130 países em desenvolvimento criticou a minuta apresentada pelo grupo de trabalho da Convenção-Quadro da ONU sobre a Mudança do Clima e a qualificou de “desequilibrada”. De Boer, em sua última entrevista coletiva como secretário-executivo da convenção – cargo no qual será substituído em julho pela costarriquenha Christiana Figueres – insistiu, no entanto, em que o texto não foi rejeitado por nenhuma das delegações reunidas em Bonn.

“O grupo disse que não está contente com o texto, mas acrescentou que voltará para seguir negociando e conseguir que ele seja mais equilibrado”, afirmou De Boer, que falou também sobre o descontentamento da União Europeia (UE) com o documento.

Representando a Presidência espanhola de turno da UE, a diretora do Escritório de Mudança Climática da Espanha, Alicia Montalvo, fez alusão, na sessão de clausura, à “preocupação” do bloco europeu com a falta de “urgência” no debate sobre os objetivos de cada país e de clareza nos planos das nações em desenvolvimento.

“Não é uma surpresa que alguns pensem que não é o documento perfeito. Mas estão dispostos a trabalhar nele”, disse De Boer. A principal crítica dos países em desenvolvimento é que o texto omite a possibilidade de que o Protocolo de Kioto, que expira em 2012, seja ampliado para um segundo prazo, e aponta a criação de um novo instrumento legal.

De Boer reconheceu que a sobrevivência do Protocolo de Kioto “depende de se os Estados Unidos estão dispostos ou não a adotarem metas de redução de emissões (de gases que agravam o efeito estufa)”, que equiparem o país ao resto das nações industrializadas que ratificaram o documento.

O responsável da ONU sobre mudança climática destacou que a minuta apresentada em Bonn como base das negociações mostra que há uma “aproximação” quanto a questões como o financiamento para os países em desenvolvimento, a adaptação ao aquecimento global, a redução do desmatamento e a transferência tecnológica.

De Boer espera que da cúpula do México saia uma “arquitetura operacional” e funcional suscetível de ser transformada em um tratado legal um ano depois, na reunião na África do Sul, e que reflita uma visão conjunta sobre a estratégia no longo prazo na luta contra a mudança climática.

Por sua parte, as ONGs se dividiram entre as que viram sinais de progresso nas negociações e as que criticaram com contundência a omissão no texto da possibilidade de ampliar o Protocolo de Kioto, como fez a organização Action Aid.

As ONGs recorreram a jargões de futebol, coincidindo com a estreia da Copa do Mundo na África do Sul, para pedir aos “jogadores” das equipes negociadoras que “façam um gol” na luta contra a mudança climática.

Os representantes do Greenpeace afirmaram que os países devem “melhorar seu jogo” para que, no “segundo tempo” das negociações, seja aberto o caminho para a vitória em Cancún. Os ativistas disseram que os “jogadores estão em uma melhor forma” que no ano passado, apesar de alguns seguirem dando “voltas sem saber onde está o gol”. E, enquanto a UE mantém “seus melhores jogadores no banco”, os EUA seguem discutindo se “sair de vestiário é fundamental para se jogar a partida”.

A Oxfam e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês), por sua parte, afirmaram que apesar de ainda haver muito a fazer antes de Cancún, a rodada de Bonn devolveu “a esperança” ao processo negociador.

O assessor em política climática da Oxfam, Antonio Hill, disse que, embora haja a possibilidade de conseguir um “progresso real” em Cancún, as negociações ainda estão baseadas na “falta de vontade política dos países mais poderosos e ricos”.

A Convenção-Quadro da ONU sobre a Mudança do Clima realizará uma nova rodada de negociações formais de 2 a 6 de agosto em Bonn e outra em outubro na China, ainda sem uma data específica, antes da reunião no México no final do ano.

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