O BRASIL ocupa hoje lugar de destaque no meio científico internacional em diversas áreas de conhecimento. No entanto, as revistas científicas brasileiras ainda estão longe de alcançar o mesmo prestígio internacional que já cerca muitos pesquisadores do país.

Para que a excelência dos estudos produzidos nos laboratórios nacionais se traduza também na valorização das revistas científicas brasileiras, é necessário desenvolver políticas editoriais que permitam dar fim a esse aparente paradoxo.

O que tem ficado claro nos últimos anos é que a chave para adquirir mais destaque e visibilidade internacional é evoluir no aumento dos índices de impacto. O indicador é calculado pela divisão do número de citações aos seus artigos pelo número de artigos publicados.

A experiência da revista “Memórias do Instituto Oswaldo Cruz” tem muito a colaborar nesse sentido. Criada em 1909 pelo sanitarista Oswaldo Cruz, a “Memórias” demonstra capacidade de conjugar inovação e tradição -acompanhando o mesmo compromisso centenário da Fiocruz, onde é editada.

Uma das mais antigas publicações científicas da América Latina ainda em circulação, a revista acaba de alcançar o status de periódico mais importante da região na área biomédica. A indicação do Institute for Scientific Information (ISI) vem no ano do centenário da “Memórias”. Entre as ações de modernização que explicam o sucesso da revista, estão o acesso livre e gratuito ao seu conteúdo via internet e a publicação em inglês.

Ainda na década de 90, a “Memórias” já fazia parte da base SciELO, plataforma de publicações científicas da América Latina com conteúdo livre. Houve investimento em um sistema de submissão digital de artigos, o que agilizou e tornou mais transparente o processo de publicação.
Em 2008, a revista disponibilizou gratuitamente para download todo o conteúdo publicado nos seus cem anos de história. Também no ano passado, os artigos passaram a contar com o DOI, um sistema internacional de identificação de artigos científicos -uma espécie de CPF digital que garante a existência e a publicação do artigo em questão.

A publicação tem mais uma vantagem: publicar nela é de graça. Diferentemente de outras revistas internacionais, que chegam a cobrar centenas de dólares por página publicada, na “Memórias” o processo é todo gratuito. Para melhorar o fator de impacto de nossas revistas científicas, pesquisadores do mundo inteiro têm que ter acesso ao que é publicado nelas e também a possibilidade de publicar no Brasil. Todos querem ver seus trabalhos publicados na “Science”, na “Nature” e em outras revistas semelhantes. Fazer com que autores nacionais e internacionais optem pela “Memórias” ou por qualquer revista brasileira é uma questão de convencimento.

Cada vez mais nossas publicações precisam ser internacionais, impactantes, confiáveis e profissionais. Especial atenção deve ser dada aos excelentes pesquisadores brasileiros.

Como fazê-los publicar mais no Brasil, em revistas que ainda têm fator de impacto mais baixo que as estrangeiras? Esse convencimento -e isso tem sido mostrado também por nossas experiências com a “Memórias”- vem no momento em que nossos autores reconhecem outros pesquisadores de destaque, referências internacionais, publicando na revista.

É por isso que, mesmo com todas as medidas de modernização, nada substitui a qualidade dos artigos publicados. A estruturação de uma rede de revisores de renome, nacionais e internacionais, que fazem uma triagem severa daqueles conhecimentos científicos que são de fato inéditos e impactantes, foi uma forma de assegurar a qualidade e a relevância dos dados publicados e, assim, atrair novos autores e estudos de grande qualidade para a revista. Uma das revistas científicas mais antigas da América Latina chega aos cem anos de olho no futuro. A receita, que pode ser seguida por outras publicações nacionais, foi crescer, se modernizar e se internacionalizar.

Mais uma vez, como há um século, a “Memórias” assume seu lugar entre as locomotivas do processo de editoração científica no país, pronta para ser novamente pioneira na integração de comunicação e ciência.

Ricardo Lourenço