DIANTE da disparada do preço do álcool nas bombas, o governo federal tomou a única iniciativa que lhe cabia. A partir de 1º de fevereiro, cada litro de gasolina conterá 20% de álcool anidro -modalidade não hidratada do biocombustível-, e não mais 25%.

O Ministério de Minas e Energia estima que, durante os 90 dias de vigência, a medida redunde na liberação adicional de 300 milhões de litros de álcool -cerca de 7% do consumo trimestral do país. Esse súbito impulso na oferta do álcool hidratado tende a arrefecer a inflação do combustível verde nos postos, que supera 20% em 12 meses, até que a próxima safra, a ser iniciada em abril, normalize a situação.

Se o preço do álcool apresenta oscilação natural, dado o ciclo da cana, alguns fatores acentuaram essa tendência. Endividadas e acossadas pela crise, muitas usinas venderam quantidade excepcionalmente alta de álcool no primeiro semestre de 2009, a fim de fazer caixa. O preço do biocombustível mergulhou na época, o que e ampliou o efeito “montanha-russa” a seguir: chuvas atípicas, no inverno e na primavera, dificultaram a colheita no segundo semestre e reduziram a oferta esperada de álcool.

Além disso, o preço internacional do açúcar -por conta da quebra de safra na Índia e de um movimento de especuladores financeiros- levou produtores a privilegiarem a fabricação do alimento, às custas do combustível.

Dois processos em curso -o avanço dos carros flex, no lado do consumo, e a concentração de capital na indústria da cana, na ponta da oferta- atuam para transformar algumas características do mercado brasileiro de álcool, inclusive a sua pungente oscilação de preços. O primeiro, a faculdade de comprar álcool ou gasolina, imporá um limite efetivo contra variações agudas nos preços dos dois combustíveis.

O segundo fator, que tende a favorecer a proliferação de seguros financeiros da produção e de investimentos na capacidade de estocagem, atuará no mesmo sentido. Isso, é claro, se o governo mantiver a equidistância dos lobbies do setor e não atrapalhar.