Não são apenas as candidaturas do Rio, de Tóquio e de Madri que Chicago terá que enfrentar na eleição do COI (Comitê Olímpico Internacional) nesta sexta, em Copenhague, para receber os Jogos de 2016.
Donos do maior poderio financeiro no mundo, os EUA lutam contra a desconfiança oriunda da maior crise econômica dos últimos 60 anos.
A aposta da candidatura norte-americana é no investimento da iniciativa privada e na recuperação do mercado nos próximos anos. Chicago já foi a única candidata que não dependeu de verba governamental no período de campanha política pela Olimpíada de 2016.
O projeto americano está orçado em US$ 4,8 bilhões, que serão bancados por verba privada. No entanto o programa apresenta ainda garantias do governo de Chicago, que será responsável pela cobertura de eventual rombo que não possa ser sanado pela organização. Curiosamente, esse suporte político é um dos principais pontos da campanha bancada pela iniciativa privada. A implantação de um “escritório olímpico” dentro da Casa Branca, por exemplo, tornou-se alvo de bastante elogios no relatório expedido pelo COI.
“Finalmente, temos um grande alinhamento com o governo. Nunca um presidente foi tão pessoalmente envolvido em uma campanha de candidatura olímpica, ou tão comprometido com o sucesso dos Jogos. Recebemos ainda o voto unânime do Conselho Municipal de Chicago [no início de setembro] para oferecer todas as garantias financeiras”, ressaltou Patrick Ryan, presidente da campanha.
A presença em Copenhague do presidente norte-americano, Barack Obama, no entanto, ainda não está confirmada. A viagem depende de que seja amenizada a pressão sobre o plano para reforma do sistema de saúde nos EUA. O mandatário chegou a afirmar que não iria à Europa e mandaria apenas a primeira-dama, Michelle Obama. Agora, para aumentar o lobby americano, o presidente acenou com a possibilidade de comparecer.
Baseado em uma forte estratégia de marketing, o programa americano espera angariar fundos também com o turismo, a venda de produtos autorizados e os bilhetes para os eventos. Em média, a organização pretende oferecer ingressos com preços inferiores a US$ 50, proposta considerada possível pelo comitê olímpico.
A campanha americana ainda faz diversas propostas ecológicas, como a redução de emissão de poluentes e o aumento das áreas verdes até a realização dos Jogos. O fato, entretanto, de os EUA não assinarem o Protocolo de Quioto é lembrado pela comissão do COI. Sob o olhar desconfiado do comitê olímpico, Chicago pretende organizar a Olimpíada centralizada, com quase todas as competições sendo disputadas no centro da cidade.
De acordo com o plano americano, 22 locais de competição estarão concentrados em um raio de oito quilômetros, o que permitiria o gasto de no máximo 30 minutos para se deslocar de uma sede a outra.
“A maioria dos locais de competições será no coração da metrópole, nos parques na costa do lago Michigan. Chicago produzirá uma extraordinária experiência aos Jogos, para atletas e para os espectadores, com um cenário espetacular no centro da cidade”, disse Ryan. Porém o trânsito caótico de Chicago -uma das maiores cidades dos EUA- assusta. A necessidade de aperfeiçoar o transporte público é um dos pontos fracos do projeto.
Chicago também é inova em relação ao número de instalações provisórias. A cidade americana pretende lançar mão de nove locais temporários para a disputa dos Jogos, o que diminuiria os custos da organização.
“O plano é baseado nas recomendações do COI, que solicita a utilização de espaços temporários quando as necessidades da comunidade não justificam a construção de novos locais de disputa”, explicou Ryan.
José Eduardo Martins
Folha de São Paulo