Componentes químicos artificiais presentes no nosso dia a dia podem ter um impacto significativo no sistema hormonal humano, favorecendo o desenvolvimento de doenças, problemas de fertilidade e males congênitos, informa um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) feito em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e divulgado nesta terça-feira (19).

A pesquisa diz que o número de produtos EDCs – químicos com efeitos endocrinológicos, na sigla em inglês – aumentou “dramaticamente” entre 2000 e 2012, e muitos não são testados sobre seus efeitos na saúde do homem e na vida selvagem.

Esses compostos incluem aditivos usados em embalagens, bens de consumo (eletrônicos, móveis e produtos de limpeza), itens farmacêuticos e de cuidados pessoais (xampus, cremes e sabonete).

“Os humanos estão expostos a EDCs por diversas formas, incluindo ingestão de comida, poeira, água, inalação e pela pele”, aponta o relatório da OMS e da agência da ONU para o meio ambiente (Unep).

“Esses químicos vêm de fontes variadas, entram no meio ambiente durante a produção, o uso ou a eliminação deles, e provocam diferentes (efeitos).”

O problema, segundo o relatório, é que é ainda há poucos dados sobre como os EDCs são fabricados e onde são postos. Também faltam estudos detalhados sobre seus efeitos no sistema hormonal e sua relação com doenças específicas.

O que se acredita é que a exposição a muitos desses químicos pode estar ligada a casos de câncer de mama, tireoide e próstata, deformações em bebês, hiperatividade em crianças, diabetes, asma, obesidade, Alzheimer, Parkinson, derrames e queda de fertilidade.

Crianças também podem entrar em contato com os EDCs no ventre da mãe ou durante a infância, ao levar objetos à boca.

Produtos químicos
Entre os produtos químicos que, segundo a ONU, podem alterar o sistema hormonal estão os ftalatos (usados em plásticos maleáveis e na produção de brinquedos, perfumes e produtos farmacêuticos, como desodorantes); bisfenol A (também chamado BPA, substância que serve para endurecer plásticos e é encontrada em embalagens de bebidas e alimentos).

O relatório diz, ainda, que níveis relativamente altos de bifenil policlorado já foram encontrados em atuns coletados na costa do Brasil. Esse componente é um dos fatores de risco para o câncer de mama.

Por enquanto, são poucos os países – EUA, Canadá e algumas nações europeias – que baniram o uso de determinados EDCs, especialmente em itens usados por crianças.

“No momento, apenas uma pequena parcela de químicos, incluindo poucos tipos de EDCs, é medida, fazendo deles a ponta do iceberg”, destaca o estudo, alertando que muitos produtos não declaram a presença desses aditivos químicos em suas embalagens.

“Deve ser uma prioridade global desenvolver habilidades para medir possíveis EDCs e ter um mapa detalhado das exposições (a que estamos sujeitos).”

Vida selvagem
O relatório da ONU também levanta preocupações sobre o impacto dos EDCs na vida selvagem.

Além disso, no estado americano do Alasca, a exposição a alguns químicos pode ter contribuído para defeitos reprodutivos, infertilidade e má-formação em algumas populações de veados. Grupos de lontras e leões marinhos também estão sob risco, por estarem em contato com químicos presentes em pesticidas.

“Uma vez que um EDC entra no corpo de um (animal) invertebrado, peixe, ave ou mamífero pela água ou comida, o produto químico pode ser transportado para diferentes tecidos, onde pode ser metabolizado, excretado ou armazenado”, aponta o estudo.