A partir do dia 1º de julho, a costarriquenha Christiana Figueres assumirá a chefia da Convenção do Clima das Nações Unidas (UNFCCC), com a missão de intermediar e articular um novo acordo climático global, capaz de substituir ao Protocolo de Kyoto, que expira em 2012.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo desta terça-feira, 18 de maio, a diplomata afirmou que os países têm muito a fazer para buscar metas mais ousadas de cortes de emissões dos gases causadores de efeito estufa.

Negociadora de assuntos sobre o clima da Costa Rica desde 1995, Figueres foi nomeada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, depois de pressão das nações-ilha, que queriam no cargo algum representante de país pequeno e em desenvolvimento. O outro indicado era o sul-africano Marthinus van Schalkwyk, apoiado pelo Brasil e outros países emergentes.

“Assumo a convenção do clima em um momento difícil, que é também um momento de oportunidade. Houve algum progresso em Copenhague, que dependeu da seriedade e da vontade por parte de todos os países para avançar no combate à mudança climática. Falo aqui de promessas com relação ao financiamento de curto prazo auxílio climático a países pobres , da redução das emissões por desmatamento, e da estrutura para adaptação”, destacou Figueres à Folha.

Apesar da lentidão norte-americana para aprovar uma legislação ambiental mais consistente, Figueres considera positivo o fato de que há na Casa Branca um compromisso por parte do governo de participar das negociações.

“Vamos ver como vai terminar essa discussão. Na semana passada foi apresentada uma versão para a legislação interna nos EUA que os obrigaria a reduzir as emissões em 17%, conforme prometeu o presidente Obama. Isso ainda é um esboço que tem de passar por todas as instâncias legislativas no país”, observou Figueres.

Ao criticar o esboço de acordo alcançado durante a 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o Clima (COP15), a diplomata costarriquenha lembrou que “as promessas de mitigação que estão sobre a mesa não chegam a garantir o limite de 2ºC” em relação a um provável aumento de temperatura nas próximas décadas.

“Se estagnarem nesse patamar propostas de redução de emissões , a temperatura terá acréscimo entre 3ºC e 3,9ºC. Além disso, esses 2ºC não garantem a sobrevivência dos Estados em situação mais criticamente vulnerável. Isso significa que todos os países terão de se esforçar mais e aspirar a uma ambição maior de mitigação no momento em que ainda podemos enfrentar o problema.”

Brasil
Apesar de não ter contado com o apoio do Brasil para ser indicada chefe da UNFCCC, Figueres elogiou o país no que diz respeito ao papel de protagonista exercido nos últimos anos em relação ao tema mudanças climáticas, sobretudo quanto aos avanços no mecanismo de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd).

“Nessa área, é preciso antes de tudo reconhecer a liderança que tem exercido o Brasil, país que tem um dos maiores desafios diante das emissões por desmatamento. Já existe efetivamente um acordo de Redd bastante maduro que se pode finalizar e fechar em Cancún. Me parece que devemos adotar vários mecanismos financeiros. O mercado pode ser um deles, mas precisaremos de mecanismos que não são de mercado para que o Redd seja eficaz”, concluiu Figueres.

Entre o final de novembro e o início de dezembro, os representantes dos países signatários da ONU estarão reunidos na cidade mexicana de Cancún para as negociações da COP16.

Também ouvidos pela Folha, especialistas brasileiros no assunto consideraram positiva a escolha de Christiana Figueres para chefiar a Convenção do Clima das Nações Unidas. “Ela é experiente e muito respeitada nos meios internacionais”, destacou Luiz Gylvan Meira Filho, responsável pelo setor de negociação de clima da USP. “É transparente, descomplicada e objetiva”, avaliou Suzana Kahn Ribeiro, ex-secretária brasileira de Mudanças Climáticas.

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