Inaugurado há nove anos, projeto agora quer levar pessoas para uma nova experiência ecológica na maior área alagada do planeta

No coração de uma área de 3 mil hectares de bosques e campos naturais denominada “Pantanal paraguaio”, por sua proximidade com o Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro, no estado brasileiro de Mato Grosso do Sul, foi inaugurado há pouco menos de uma década um dos destinos ecoturísticos mais relevantes da América do Sul atualmente: a estação biológica Três Gigantes.

Projetada pela ONG Guyra Paraguay e financiada por entidades internacionais como a USAID e WCS para servir de ponto de investigação científica da fauna e da flora da região, ela se transformou também em um local de contato entre as pessoas e a natureza, ainda que em pequena escala. A estação conta com apenas três acomodações com capacidade para, no máximo, dez pessoas cada. Ou seja, o limite de visitas é de 30 pessoas por período. Elas são orientadas por três guardas florestais e pelos próprios estudiosos que passam dias trabalhando nos laboratórios.

“No turismo ecológico, o importante é o lugar, e não o turista. É por isso que não projetamos um hotel cinco estrelas dentro de um bosque. O que queremos é mostrar a natureza como ela realmente é”, explica o diretor da ONG, Andrea Ferreira.

Em 2013, com o intuito de facilitar o acesso a várias regiões com potenciais turísticos e históricos do país, o governo reativou as linhas regulares de aviões militares ligando a capital Assunção a elas, como as cavernas de Vallemí, o morro Tres Hermanos e a estação biológica Tres Gigantes. O plano da Secretaria Nacional de Turismo (Senatur) do Paraguai é que a decisão incentive companhias a vender passagens aéreas para os mesmos locais.

Naquele mesmo ano, a entidade promoveu a primeira Fam Tour Pantanal, uma grande imersão pelo parque em que os turistas foram acompanhados por biólogos, observadores de aves, oficiais de turismo e promotores de conservação à natureza. A ideia era que os visitantes tivessem contato tanto com as coisas positivas, como a beleza, a diversidade e a tranquilidade da natureza, como com suas partes negativas, como os possíveis desconfortos.

A viagem até a estação também é longa: são dois dias inteiros de navegação pelo Rio Paraguai da cidade de Concepción (cinco horas de Assunção de carro) até a estação em um barco com serviços de bordo e habitações individuais. A cidade mais próxima da Três Gigantes é a pequena Bahía Negra, na fronteira com o Brasil, para onde alguns turistas podem ir e voltar quando precisarem, por meio de lanchas menores. “A organização não busca se afastar de turistas que não entendem o sentido de uma vida natural, mas quer gente que esteja interessada em conhecer o lugar em sua essência, valorizá-la e até promover mudanças que favoreçam a natureza”, diz Ferreira.

Da estação, os turistas podem realizar uma série de atividades: excursões sobre o Rio Paraguai (Rio Negro para os paraguaios), pescas guiadas nas águas do rio, fazer trilhas fotográficas ou de observação de animais. “Vários de nossos visitantes tiveram a oportunidade de fotografar uma quantidade enorme de pássaros, além de jaguatiricas e onças-pintadas”, conta Andrea. “A recomendação mais importante é que as pessoas viajem com a mente pronta para se maravilhar”, completa.

Em 2008, o prestigiado jornalista inglês Sidney Barnes, que escreve reportagens sobre natureza no jornal britânico The Times, visitou a estação a convite da ONG e se disse “maravilhado”.

Naquele ano, ele já previa que o projeto turístico do local tinha tudo para dar certo com propaganda para o público estrangeiro: “Particularmente na Inglaterra as pessoas pagam cifras altíssimas para ver paisagens em seu estado natural. Vale dizer: pagam ainda mais por aquelas que não têm transformações feitas pelo homem”. Segundo o jornal paraguaio ABC Color, a imensa maioria dos visitantes da estação biológica é do exterior.

A estação biológica Três Gigantes é um pequeno ponto dentro de uma série de camadas de esferas naturais: localizada dentro do Parque Nacional Río Negro, ela faz parte de um parque maior, o do Chaco úmido, que integra a biosfera Chaco, presente também na Bolívia, na Argentina e no Brasil. A instalação dos laboratórios foi feita depois que a Guyra Paraguay comprou 15 mil hectares de terras dentro da área verde.

O Pantanal paraguaio, brasileiro e boliviano é a maior área alagada do mundo, com 220 mil quilômetros quadrados de extensão. Segundo a ONG internacional WWF, a região concentra ao menos 4.700 espécies de plantas e vertebrados, sendo 3.500 tipos de vegetação, 325 de peixes, 53 de anfíbios, 98 de répteis, 656 de aves e 159 de mamíferos.