ATÉ JULHO , o ectoplasma de notícia eleitoral mais interessante era a possibilidade de José Serra não se candidatar a presidente. O governador paulista não quereria se manifestar sobre sua candidatura já em 2009 a fim de verificar quão grande (ou certa) seria sua chance de vitória. Talvez não fosse tão boa, dados a hipótese do “plebiscito” contra Dilma Rousseff, a propaganda maciça do governo luliano e o ciclo econômico vindo a calhar para o petismo-lulismo. Lula manteve 80% de aprovação mesmo na crise, de resto mais amena que o esperado; em 2010 é provável que o PIB volte a rodar a mais de 4% ao ano. Enfim, em julho se desvanecera mesmo a história da doença de Dilma, a que dávamos tanta atenção.

Em agosto, porém, o Senado ainda queima, Lina Vieira frita Dilma e Marina joga água na ministra. A emergente Marina Silva é, por ora, o risco mais importante para o projeto luliano. Mas quão importante?

Marina não é bem um acaso. Pode ser o rosto da única militância política “autêntica” destes dias, a ambiental. Por isso foi expelida do organismo petista-lulista, tão cedo apodrecido por um pragmatismo rastaquera, quando não corrupto. Por isso Marina terá um fatia do eleitorado organicamente ideológico, “cabeça”, “purista”, de “protesto”, jovem ou desencantado com nomes velhos. Como se diz, seria em 2010 algo do que Heloísa Helena foi em 2006, uma Heloísa banhada numa catarata de chá verde com camomila.

Relativamente desconhecida, porém, na campanha Marina corre o risco de parecer apenas uma candidata nanica, a falar num minuto de TV sobre temas exóticos para a maioria do povo. Mas só vamos ter um aperitivo da opinião popular em meados de 2010 -o eleitor se ocupa da eleição cada vez mais tarde. De pronto, a hipótese Marina tira Ciro Gomes (PSB) da mão de cartas que Lula manipulava com certa facilidade. Enfim, Marina e Ciro dificultam os cálculos do PMDB e outros adesistas podres. Mas não muito.

Marina e Ciro, se candidatos, por um lado aumentam a incerteza sobre um segundo turno em 2010. Mas é quase impossível que Marina alugue partidos de aluguel. Ciro e Dilma, por sua vez, estariam no campo luliano: o problema seria apenas de acertar o alvo, e não o placê (o cavalo que chega em segundo ou terceiro). Os problemas tucanos permanecem. O PSDB é um partido desgastado, fragmentado, tisnado pela sua cota de escândalos, de rabo preso até no Senado. Mais importante, até agora nada tem de novo para contrapor ao firme pacto político que conecta o lulismo à maioria do eleitorado, pacto que ainda parece render.

O tucanismo fernandino se sustentou do sucesso do fim da desordem econômica. Mas tal sucesso aos poucos caiu no esquecimento; não encheu barrigas e cabeças o bastante. Foi abalado pelo estelionato do real forte na eleição de 1998 (que pegou muito mal), pelo vexame do apagão e pelos efeitos das várias crises externas. Ressalte-se, enfim, o dano causado pela espantosa indiferença da maioria do tucanato, “intelectuais” ou políticos, em relação a ideias, emoções e necessidades do povo comum, que acontece de ser a maioria do eleitorado. Se não resolver tal coisa, não adianta vir o “efeito” Marina, Lina, Ciro ou Xerxes.

VINICIUS TORRES FREIRE