Após três anos de brilhantismo do Barcelona, sua aura já está começando a se esvair

Um romancista norte-americano cujo nome não recordo escreveu certa vez que o maior desafio da vida é como fazer com que o amor perdure. Os times de futebol têm muitos desafios, mas um deles é como fazer o sucesso perdurar, ao conquistá-lo.

Penso especificamente no Barcelona, cujo futebol é tão bonito que eu preferiria que o jogo nunca acabasse. Mais do que qualquer outro time desde a seleção brasileira da Copa de 1970, o Barcelona joga um futebol de sonho. O Brasil de Pelé, Rivelino, Tostão, Gérson, Jairzinho e companhia tinha mais glamour, cintilava mais; mas como equipe, com sua fluidez comparável à de um organismo vivo, o Barça é igualmente impressionante.

Minha preocupação é que, após três anos de brilhantismo sustentado, a aura esteja começando a se esvair. O núcleo do time continua o mesmo, Messi vem jogando pelo menos tão bem quanto na temporada passada e alguns dos novos jogadores contratados para esta temporada, como Cesc Fàbregas, parecem fantásticos. Mas a grande questão, como no amor, é de que maneira manter as coisas novas, de que maneira sustentar o apetite quando o estômago e o coração estão tão saciados de triunfos. No caso, dois títulos da Copa dos Campeões, três títulos espanhóis e, o que é mais importante, a admiração de praticamente todo mundo do futebol.

A pergunta será respondida em dezembro, quando o Barcelona pegará o Real Madrid e, logo em seguida, provavelmente, o Santos, na final do Mundial. Meu sentimento é que, nos dois casos, os rivais terão mais fome de vitória. O Real por estar desesperado para superar os ressentimentos e humilhações dos últimos anos. O Santos, imagino, porque vencer o Barça valerá mais para eles do que o contrário. E Neymar tem mais a provar que Messi.

Já que toquei no assunto, é excelente, se for verdade, que Neymar planeja ficar no Brasil por muito tempo. É bom que o balanço do poder futebolístico volte a favorecer o Brasil, em detrimento da Europa, da mesma forma que o balanço do poder econômico parece estar se movendo do velho para o novo mundo. Seria surpreendente se os brasileiros não se sentissem assim, o que é outra razão para crer que o Santos estará mais motivado que o Barça no torneio em que podem se encontrar.

Minhas desculpas aos santistas, mas espero estar errado. Que o Barcelona continue a ganhar todas. Que o amor que sinto pelo time, como admirador, jamais se encerre, e que a beleza de seu futebol seja recompensada vitória após vitória.

fonte: folha de sp