Desesperadas por deter a erosão da costa da Louisiana, as autoridades do Estado estão discutindo a possível derrubada das barragens no rio Mississipi, ao sul de Nova Orleans, a fim de restaurar o influxo nutriente de águas lamacentas para os pântanos localizados na região.

Mas em uma nova análise, cientistas da Universidade Estadual da Louisiana afirmam que as barragens construídas ao longo do curso dos rios, especialmente o Mississipi, aprisionam tamanho volume de sedimentos que as águas deixam de transportar volume suficiente de material para impedir a perda de pântanos, especialmente agora que o aquecimento global está acelerando a elevação no nível da água marinha.

Como resultado, a perda de milhares de quilômetros quadrados adicionais em áreas pantanosas se tornou “inevitável”, de acordo com o relatório dos cientistas, publicado na segunda-feira pela revista Nature Geoscience. As descobertas dos cientistas não indicam que seria inútil desviar as águas lamacentas do rio na direção dos pântanos, afirma um dos pesquisadores, Harry Roberts, em entrevista. “Qualquer esforço significativo de restauração de nossa costa precisa envolver o aproveitamento dos sedimentos fluviais”, afirmou Roberts, um cientista especializado no estudo de áreas costeiras.

Mas ele afirmou que caberia às autoridades estaduais decidir que porções da paisagem do Estado poderiam ser salvas e que outras teriam de ser abandonadas, e reconhecer que modos de vida e a operação de empresas seriam prejudicados pelas medidas. Em lugar de derrubar as barragens bem ao sul de Nova Orleans, uma região ocupada por relativamente poucos habitantes, diz Roberts, as autoridades estaduais deveriam discutir a possibilidade de considerar desvios muito mais próximos a Nova Orleans, possivelmente na direção das bacias de LaFourche, Terrebonne e St. Bernard.

“Decidir exatamente onde isso deve ser realizado será um processo extremamente doloroso”, disse Roberts sobre a derrubada das barragens no Mississipi. O sedimento transportado pelas águas do Mississipi criou os pântanos da Louisiana em um processo que durou milhares de anos, mas hoje as barragens construídas em determinados pontos do curso do rio, ao norte da área pantanosa, são responsáveis pela retenção de pelo menos metade do volume de sedimento, afirmou Roberts. Ele apontou que existiam cerca de oito mil barragens na bacia de drenagem do Mississipi.

As barragens transformaram o rio em “um encanamento”, na região ao sul de St. Louis, no Missouri, disse Roberts. O transporte de sedimentos aos pântanos da Louisiana, ele estima, “não está acontecendo, ou ao menos não está acontecendo de maneira muito eficiente”. Havia controvérsias sobre as dimensões do impacto das barragens erigidas ao longo do rio sobre o fluxo de sedimentos na direção dos pântanos.

Ainda que a presença de sedimentos nas águas do Mississipi seja hoje de metade do volume que costumava existir nos séculos XVIII e XIX, alguns cientistas argumentaram que o refluxo sedimentar naquele período da história era incomumente elevado, devido ao advento da agricultura em larga escala na porção central do território dos Estados Unidos.

Roberts afirma que uma nova análise de dados referentes aos sedimentos, baseada em indícios que remontam a milhares de anos, colocou essa ideia em questão. “É provável que tenha acontecido um pico naquele período histórico, mas suas dimensões não foram significativas”, ele afirmou.

Em teoria, existe uma possibilidade de remover algumas das barragens instaladas ao longo do curso do rio a fim de ampliar o influxo de sedimentos para os pântanos. Mas Roberts afirma que os sedimentos aprisionados pelas barragens incluem produtos agroquímicos e outros poluentes que poderiam prejudicar a qualidade da água na foz do rio Mississipi, que já está em deterioração.

Cornelia Dean
Do New York Times

Tradução: Paulo Migliacci ME