Projeto inédito busca confirmar presença do animal na costa brasileira

Pesquisadores do Projeto Mantas do Brasil começaram a receber apoio financeiro da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza para realizar um estudo inédito. O objetivo é mapear a presença de raias gigantes ao longo da costa brasileira e buscar evidências da existência de uma possível nova espécie do gênero “Manta” em águas brasileiras.
As raias encontradas sazonalmente (no inverno) no litoral de São Paulo são conhecidas popularmente como “jamantas” e apresentam características da espécie Manta birostris, a única registrada no Brasil. São animais que podem ultrapassar os cinco metros de envergadura e ostentam cara e dorso negros, este com duas manchas brancas, de formato geométrico.
Já os animais observados nos litorais do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e no arquipélago de Fernando de Noronha (PE) apresentam coloração incomum no dorso e ventre. Ao contrário da espécie Manta birostris, muitos desses indivíduos têm a cara branca e o dorso negro com manchas arredondadas. Aparentemente são menores do que as jamantas, atingindo no máximo quatro metros de envergadura. Esse fator, no entanto, pode se dever ao fato de alguns dos animais observados no Nordeste do país serem jovens.
“Nosso trabalho consistirá na ampliação de equipe e de esforços por meio de parcerias nas regiões de interesse, visando coletas e análises do material genético da população com características distintas daquelas já descritas em estudos científicos e, com isso, determinaremos a qual espécie pertencem”, explica o biólogo Leo Francini, coordenador de pesquisas do Projeto Mantas do Brasil.
O fato é que, ainda que pertençam à mesma espécie já descrita (Manta birostris) sua coloração diferente pode resultar na redescrição das características da espécie tal qual as conhecemos hoje.
O Projeto Mantas do Brasil faz parte das 20 novas iniciativas selecionadas pela Fundação Grupo Boticário, apoiadas no segundo semestre de 2016
A possível nova espécie já nasceria ameaçada
Ana Paula Balboni Coelho, mergulhadora e coordenadora geral do Projeto Mantas do Brasil, explica que o gênero Manta possui duas espécies atualmente descritas no mundo: a M. birostris e a M. alfredi. Além disso, a existência de uma terceira espécie está sob investigação no Golfo do México pela Dra. Andrea Marshall.
“Uma das hipóteses com que trabalhamos é que animais dessa possível nova espécie que está sendo estudada no Golfo do México esteja presente também em águas brasileiras. Lá já foi comprovado que a jamanta e a raia daquela região são geneticamente diferentes”, explica a pesquisadora. Ela afirma que, caso seja comprovada sua existência, a nova espécie será considerada ameaçada de extinção, assim como já acontece com as outras mantas.
Segundo Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, a ameaça às mantas reforça a importância de ações em prol do ecossistema marinho-costeiro brasileiro, que é rico em diversidade de espécies, mas ainda pouco conhecido e protegido. “Os oceanos têm sofrido no Brasil e no mundo com a pesca excessiva e a poluição, sendo desafio para todos os setores garantir a conservação desses ambientes”, complementa.
Como forma de contribuir para a conservação das espécies-alvo dos estudos, o Projeto Mantas do Brasil capacita mergulhadores e ainda subsidia entidades governamentais com informações que auxiliam o estabelecimento de políticas públicas. Por exemplo, um dos resultados anteriores foi a proibição em 2013 da pesca de Mobulídeos (mantas e móbulas) em águas brasileiras.
20 novos projetos
O Projeto Mantas do Brasil faz parte das 20 novas iniciativas selecionadas pela Fundação Grupo Boticário, que começaram a ser apoiadas no segundo semestre de 2016. Juntas, somam mais de R$ 2,5 milhões de doação financeira. Desde sua criação em 1990, a instituição apoiou mais de 1.500 iniciativas em todos os estados brasileiros.