Os norte-americanos em áreas rurais e pequenas cidades veem o mundo de forma muito diferente daqueles em cidades e subúrbios, segundo pesquisa do Washington Post em parceria com a Kaiser Family Foundation (Fundação Família Kaiser).
Muitas das grandes diferenças têm a ver com valores, ou pelo menos quanto à percepção dos próprios entrevistados pela pesquisa: quatro em dez moradores de áreas rurais afirmam que seus valores são “muito diferentes” de pessoas que vivem em cidades, enquanto que apenas dois em dez habitantes de ambientes urbanos pensam o mesmo. Há também claros contrastes econômicos.
Apenas 30% dos moradores de áreas rurais dos Estados Unidos consideram as oportunidades de trabalho em suas comunidades como bom ou excelente, comparado a 50% em áreas urbanas e 45% nos subúrbios.Redução populacional Outro dado que pode colaborar com o sentimento de distanciamento da população rural em relação às áreas metropolitanas é a realidade demográfica, simples e impressionante: desde 2010, a América Rural vem perdendo população.
Esse dado foi divulgado pelo Departamento da Agricultura dos Estados Unidos (USDA), mais precisamente pelo geógrafo John Cromartie, do setor de Setor de Pesquisa Econômica, que avaliou a dinâmica da população rural norte-americana. Essa avaliação é ainda mais restrita do que a pesquisa feita pelo Washington Post e a Kaiser Foundation, cuja avaliação classifica como áreas rurais regiões metropolitanas com menos de 250 mil pessoas.É evidente que algo inédito está acontecendo na América Rural. Cerca de 1.350 perderam população de 2010 a 2016, um novo recorde.
A migração para outros municípios foi a principal causa dessa redução. A porcentagem de habitantes deixando municípios considerados rurais pelo Departamento de Agricultura é atualmente muito maior do que nas décadas de 1950, 1960 e 1980. Houve também diminuição constante do crescimento da população natural (nascimentos versus falecimentos) na América Rural. Isso significa que o crescimento populacional não é grande o suficiente para compensar a imigração.
Em centenas de cidades rurais, de fato, as mortes estão superando os nascimentos.O relatório de Cromartie destaca que: “As áreas que recentemente começaram a experimentar uma redução natural estão localizadas no Nordeste, Sul e especialmente nos arredores da Appalachia (cadeia geográfica de montanhas), incrementando uma grande região com redução natural da população, que se estende do estado da Pensilvânia até o nordeste do Alabama (área superior a 1.500 km)”. “Digamos que você vive em uma região na qual a população está envelhecendo, em que mais pessoas estão morrendo do que nascendo. Os jovens estão mudando para regiões com melhores oportunidades, o que já aconteceu antes, mas agora está chegando ao ponto de não haver jovens suficientes nesses locais.
Os imigrantes estrangeiros, que trouxeram vitalidade para muitas cidades, são na maioria das vezes aquelas pessoas que você assiste apenas na televisão (em 2013, pessoas nascidas em outros países representavam 2,4% das populações em regiões não metropolitanas, contra 7,9% nas metropolitanas).
E a TV é uma fonte de informação essencial, já que a conexão com a internet [em áreas rurais] é horrível”.Há, contudo, cidades pequenas com muitos imigrantes, além de áreas rurais que não estão perdendo população: 626 entre 2010 e 2016. Porém, na década passada muitas áreas não próximas às regiões metropolitanas e próximas às montanhas apresentaram ganho rápido de população. A partir de 2010, esse rápido crescimento passou a acontecer geralmente em municípios ‘afastados’ com possibilidade de exploração de petróleo e gás natural. A situação, apesar de tudo, pode mudar. Os subúrbios estão crescendo, o que pode chegar a municípios rurais vizinhos. Se isso acontecer, certamente eles vão se juntar às regiões metropolitanas, e deixarão de ser áreas rurais. Mas com as mortes superando os partos em tantos municípios rurais, há poucos motivos para acreditar em uma mudança em curto prazo. Há certamente algo acontecendo além de uma simples estatística.