Ao mesmo tempo em que determinou o rebaixamento da classificação de risco da Petrobras, o desafio de explorar o pré-sal também protegerá a empresa das consequências dessa piora em sua nota, dizem especialistas. A descoberta de petróleo no pré-sal é apontada como a principal conquista da estatal para dar um salto em sua avaliação de risco.
Na quarta, a agência Standard & Poor’s anunciou que reduzira de “BBB” para “BBB-” a nota de risco para a empresa contrair crédito. Para a agência, a empresa tem grande volume de investimentos programados até 2013, num momento de queda no preço do petróleo.
A nota de risco é levada em consideração por credores e investidores na hora de conceder crédito ou investir. Em tese, quando uma empresa tem sua classificação de risco rebaixada, enfrenta dificuldade maior para captar recursos por meio de emissão de títulos ou de empréstimos. Diante dos obstáculos, a saída é oferecer uma taxa de retorno maior ao investidor.
A Petrobras prevê investir US$ 174 bilhões em cinco anos. Para explorar o petróleo do pré-sal, serão necessários US$ 111 bilhões até 2020.
Mesmo com o rebaixamento, a Petrobras segue na faixa de grau de investimento -ou seja, na visão da agência, a companhia oferece baixo risco de um eventual calote em credores.
Eric Conrads, chefe de pesquisa para a América Latina do ING Investment Management, lembra que o petróleo no pré-sal é a maior descoberta da empresa. Segundo ele, é isso que os investidores e credores vão olhar. “Não é a nota que vai inviabilizar o projeto do pré-sal. O preço do petróleo está subindo e o país está “quente” no mapa mundial de investimentos.”
Com a forte expectativa de produção de petróleo nos campos do pré-sal, não faltará dinheiro para a Petrobras, prevê Conrads. “A Petrobras pode e vai encontrar dinheiro. Se faltar, ainda há o BNDES.”
Marco Tavares, sócio da consultoria carioca Gas Energy, explica que a decisão da agência levou em consideração a expectativa futura de caixa da empresa. “Esse caixa estará comprometido com financiamentos e será menor devido à queda no petróleo”, observa.
Tavares acredita que, no entanto, a empresa não tem outra saída se quiser dar um salto neste momento. “Ela está fazendo o que é certo para dar o salto. A Repsol também viu sua nota piorar quando comprou a YPF, mas depois recuperou.”
Em nota, a Petrobras afirmou reconhecer “ser robusto o plano de investimentos”, mas que vem trabalhando para manter saudáveis seu caixa e o nível de endividamento.
A companhia lembra ainda que, com os US$ 31 bilhões já obtidos em empréstimos este ano, seu plano de investir US$ 174 bilhões até 2013 está completamente financiado.
Samantha Lima
Folha de S.Paulo