Regiões Noroeste e Serrana do estado estão entre as dez localidades nacionais produtoras de café representadas no Boulevard Olímpico.

Por Andreia Constâncio

Quando falamos em esporte, a palavra “superação” vem à mente, de forma quase automática. Ao pensamos em “Jogos Paralímpicos”, o conceito é ainda mais intenso. O café do Noroeste Fluminense também é um belo exemplo de como é possível vencer as dificuldades. A tradicional região produtora do estado do Rio atravessou uma grande crise no século 19, mas após investimentos em tecnologia e programas de apoio à agricultura familiar, se reinventou e hoje, graças ao seu café gourmet, vem conquistando um lugar de destaque na mesa do carioca. Num total de 10 regiões produtoras de seis estados, o Noroeste Fluminense está em exposição em um workshop sobre cafés especiais na Casa Brasil, instalada no Píer Mauá, no Boulevard Olímpico. A Região Serrana, que também sabe bem como é enfrentar dificuldades e se reerguer depois das fortes chuvas, é a outra representante do Rio de Janeiro.
Durante a Olimpíada e Paralimpíada Rio 2016, 22 empresas têm espaço garantido para mostrar o tipo de café que produzem, suas características de sabor, além, é claro, de oferecerem degustação da bebida para os visitantes. Na próxima sexta-feira (9), os produtores Márcio Vargas, do município de Varre-Sai, e Suhail Majzoub, de Porciúncula, ambos da Região Noroeste e beneficiários do Programa Rio Rural, participarão do evento. A representante da Região Serrana será a Fazenda do Cedro, dos produtores Efigênio e Francisco Salles, de Bom Jardim.
“Para nós, é algo único. Não adianta produzirmos café de excelência se não tivermos como dizer isso ao nosso público. Queremos mostrar ao Brasil e ao mundo porque a nossa região é tão produtiva e sustentável também”, afirma Márcio Vargas. Os municípios de Varre-Sai, Porciúncula, Bom Jesus do Itabapoana e Natividade concentram as lavouras de café do Noroeste Fluminense, principal região produtora do estado, com 71% do mercado interno. A região é constituída de pequenas propriedades, sendo a agricultura familiar a base da economia local.
Na Região Serrana, segunda em produção cafeeira no estado com cerca de 29% do mercado, somente o município de Bom Jardim é responsável por 80% do total de café produzido. A Fazenda do Cedro, dos irmãos Efigênio e Francisco Salles, é ocupada com mais 250 mil pés de café, distribuídos em 62 hectares. Comprada em 1979, sua produção cafeeira data de 1982. A propriedade faz parte do que outrora foi uma imensa e tradicional fazenda de café, a Ipiranga.
Receita do café de qualidade: investir para crescer
Vindos de família tradicional na produção cafeeira do Noroeste Fluminense, Márcio e o irmão, Sérgio Vargas, comandam uma propriedade de 40 hectares. Os 320 mil pés de café geram uma safra anual de 120 toneladas. Metade da produção é de café especial, distribuído em larga escala para cafeterias de alto padrão.
Em 2009, aproveitando o crescimento do mercado de café gourmet, os irmãos decidiram investir na torrefação própria, processo que interfere no aroma, sabor, corpo, acidez e finalização da bebida. Até então, os grãos eram vendidos para serem beneficiados pelas empresas compradoras. Em 2014, ocorreu um novo salto de qualidade na produção quando os irmãos receberam o incentivo do Programa Rio Rural, da secretaria estadual de Agricultura, para montar um terreiro de café, área plana de concreto que acelera o tempo de secagem e ajuda na conservação dos grãos.
“O Rio Rural foi fundamental para nós alcançarmos um patamar de qualidade. Os recursos ajudaram a aperfeiçoar a bebida, aumentando nosso preço de venda. Isso sem falar no benefício para o meio ambiente, pois implantamos a proteção de nascentes, garantindo a produção de água para o futuro”, complementa Márcio Vargas.
Suhail Majzoub também adotou a proteção de nascentes de água em sua propriedade. No Programa Rio Rural, os produtores recebem recursos para incrementar suas lavouras e, como contrapartida, adotam práticas ambientais sustentáveis. Com incentivos do Rio Rural, Majzoub comprou uma estufa, usada pela primeira vez este ano. “Durante a colheita, tivemos chuva. A estufa foi fundamental para manter a umidade certa do grão. A bebida gourmet exige um padrão diferenciado”, comemora o produtor.
De acordo com a Cooperativa de Produtores de Café do Noroeste Fluminense (Coopercanol), o café da região é cultivado entre 600 e mil metros de altitude. O mais comum é o café arábica, das variedades Catucai, Catuaí e Mundo Novo. O clima local é favorável à produção de cafés de qualidade.
De acordo com o secretário estadual de Agricultura do Rio de Janeiro, Christino Áureo, o café fluminense vive uma boa fase. “O fato do Noroeste Fluminense ser destaque em um evento desse porte nos mostra que os investimentos e o planejamento feitos nesse segmento foram acertados. E não é só o recurso, mas, sobretudo, uma injeção de ânimo na autoestima do agricultor familiar”, arremata o secretário.
Visibilidade
O espaço Arte do Café, em exposição na Casa Brasil – local de promoção do Governo Federal no Boulevard Olímpico, é organizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês) e conta com a parceria da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e do Sebrae Nacional.
O evento serve para reforçar a imagem do café como um dos símbolos de identidade nacional, já que o Brasil é o maior produtor mundial desse grão. Diariamente, o público pode participar de palestras e conhecer as peculiaridades da produção. “Queremos que os brasileiros conheçam o café que é produzido em nosso território, que tenham orgulho da bebida sofisticada que estamos gerando”, comenta Gabriela Ferreira, gerente da BSCA.
Toda a articulação para que o café produzido no Rio de Janeiro participasse do evento foi feita pelo Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro (CCCRJ), que incentiva a produção em todo o estado. Em 2012, o CCCRJ promoveu um concurso para incentivar a produção das lavouras devastadas pelas chuvas que atingiram a Região Serrana.