Senhor presidente

Senhoras e senhores senadores

Senhor presidente, gostaria de registrar aqui o aniversário de 20 anos do Jornal e Revista Ecoturismo, de Porto Velho.

O primeiro número da publicação foi lançado no Palácio Getúlio Vargas, na Capital de Rondônia, e entregue ao então governador do Estado, Oswaldo Pianna Filho. No ano seguinte seguia para a Eco 92 como um dos primeiros veículos de turismo ecológico e sustentabilidade do Brasil.

Parabenizo o editor Hercules Góes pela iniciativa de batalhar pela divulgação dos ideais ecológicos, de forma pioneira e avançada, numa terra de pioneiros.

Parabéns ao jornal e Revista Ecoturismo por seus 20 anos de atividade.

O tema da Campanha da Fraternidade deste ano foi escolhido de forma acertada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Intitulada “Fraternidade e a Vida do Planeta” ela trata, resumidamente, da urgência do mundo em encontrar meios de combinar o desenvolvimento com a conservação do meio ambiente.

Essa campanha, que no ano passado, por exemplo, procurou abrir nossos olhos para os perigos que a sociedade corre ao se render à obsessão da busca pelo dinheiro, este ano chega em boa hora para alertar para os riscos que a humanidade corre ao ceder à outra tentação.

Esta tentação, senhor presidente, nada mais é do que acreditar que é POSSÍVEL dar às costas para a natureza visando apenas os lucros provenientes da exploração INSENSATA dos recursos naturais deste planeta.

Eu diria, senhoras e senhores senadores, que o risco existe nos dois extremos dessa questão; ele está no radicalismo dos dois lados. Por isso essa Campanha da Fraternidade, ao abordar a Vida do Planeta, fala da sobrevivência de cada um de nós, fala (ABRE ASPAS) “da convivência harmoniosa entre plantas, animais, águas, ser humano”, e, sem sombra de dúvidas, aborda a busca de meios com os quais possamos cuidar do nosso meio ambiente, corrigindo as eventuais degradações que o homem tenha causado.

Isso, meus amigos de Rondônia, nada mais é do que uma proposta de busca pelo equilíbrio no aproveitamento de nossos recursos naturais, sejam eles utilizados no extrativismo, na agricultura ou na indústria. Não há futuro sem esse equilíbrio.

Digo isso porque vivemos em um mundo com cerca de 7 bilhões de pessoas que precisam de alimentos todos os dias.

Não estamos sozinhos com essa preocupação. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, em concordância com esta afirmação, declarou em recente entrevista que “Para estar à altura do desafio gigantesco que temos diante de nós, contudo, é preciso aumentar em 70% a produção agrícola mundial, se quisermos alimentar os 9 bilhões de pessoas que habitarão o planeta em 2050. Isso significa que há lugar para agriculturas fortes, como a brasileira.”

Mas, senhor presidente, essa agricultura vai ter problemas para funcionar diante de um patrulhamento irresponsável que prega um PRESERVACIONISMO INSENSATO em um mundo que a população pode dar um salto de mais de um bilhão de habitantes em menos de 40 anos.

Precisamos definir o que precisamos CONTER. Precisamos saber se devemos conter a exploração de nossos recursos naturais, ou se precisamos CONTER o crescimento da população do planeta. Só podemos chamar isso de HIPOCRISIA, senhoras e senhores senadores…

Um mundo sustentável passa pela adoção em escala global de uma política de conservação ambiental e desenvolvimento. Temos que cobrar essa postura de todas as nações, mas principalmente das nações mais poderosas do globo. Elas já dilapidaram os seus recursos naturais, continuam explorando de forma colonial e insustentável o continente Africano e agora pregam a preservação da Amazônia brasileira, e impõem barreiras ambientais aos produtos agrícolas desse bioma. Percebemos então que por trás do discurso ambiental das grandes nações e suas redes de ONGs ambientais há grandes interesses econômicos.

Em suma, julgo que Campanha da Fraternidade deste ano traz uma mensagem muito importante: precisamos encontrar o equilíbrio entre a CONSERVAÇÃO do meio ambiente e a CONSERVAÇÃO da raça humana. E não há outra forma de fazer isso sem que consigamos colocar juntos, lutando juntos, os ambientalistas e os produtores agrícolas. Eles devem andar juntos porque ELES TÊM OS MESMOS INTERESSES, senhor presidente, que SÃO MANTER O MEIO AMBIENTE e MANTER A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS em larga escala.

Não haverá fórmula mágica, meus amigos de todo o Brasil. Temos que assumir os riscos e colocar em uma balança, com muita RESPONSABILIDADE, PROPRIEDADE E INTELIGÊNCIA, as nossas necessidades de recursos naturais.

Os recursos energéticos, por exemplo, podem hoje ser explorados de diversas formas. Temos hoje meios de evitar a queima de petróleo, apostando em outras tecnologias, mas não inventamos ainda uma forma de fazer com que o SER HUMANO não precise mais de alimentos.

E o pior é que também vemos a mesma HIPOCRISIA desse falso ambientalismo preservacionista afetando o setor energético aqui no Brasil. Para esses grupos, não era certo fazer as usinas do Rio Madeira, assim como não é certo construir Belo Monte, mas também não é certo construir usinas nucleares!

Somos obrigados a perguntar: O QUE É CERTO? Isso porque não é certo que fiquemos no escuro. Não é correto que fiquemos à mercê de meios alternativos de geração energética, meios insuficientes de atender demandas industriais e de grandes cidades. Não é correto que continuemos sendo exportadores de matéria prima porque não temos uma matriz energética capaz de manter uma indústria beneficiadora. Temos que enfrentar essa Hipocrisia…

Senhoras e senhores senadores, quero destacar aqui que estamos vivendo hoje sob a vigência de um Código Florestal antigo, remendado ao sabor de interesses estrangeiros, em desacordo com os tempos atuais, com a realidade atual. O Brasil precisa mudar essa realidade e isso pode ser feito com a aprovação da nova proposta do Código que está tramitando na Câmara, que poderá dar uma nova dinâmica à produção rural, sem desrespeitar a necessidade de conservação do meio ambiente.

Eu cito aqui como exemplo nosso projeto de lei 144 de 2010, que procura redefinir as áreas de reserva legal para agricultores que, atendendo o chamado do governo federal, nos anos 70 e 80 do século passado, foram para Rondônia e desmataram 75% e 50% de suas terras para poder ter direito aos títulos de propriedade. É inadmissível prejudicar um ciclo econômico já consolidado, prejudicar centenas ou milhares de famílias em função de uma mudança de lei que é míope, pois não enxerga a obrigatoriedade de um equilíbrio ambiental em escala global.

Esse tema, sob esse ponto de vista, precisa estar na pauta do encontro do presidente Obama com a presidente Dilma Rousseff, para que fique claro para o mundo que o Brasil pode e deve assumir a liderança mundial na determinação de uma agenda de desenvolvimento sustentado.

Portanto, tenho apenas que parabenizar a CNBB pela feliz escolha do tema da Campanha da Fraternidade deste ano, que abre ensejo para uma discussão global imediata, na qual temos que assumir nosso papel.

Senhor presidente

Senhoras e senhores senadores, muito obrigado pela atenção