Construir para o futuro da vida em todos os níveis é a grande tarefa posta à inteligência humana

Há alguns dias a Organização das Nações Unidas anunciou que a população da Terra alcançou o impressionante número de 7 bilhões de pessoas. Só de 2000 para cá foi mais de 1 bilhão! E se fala, com boa dose de certeza, que em 2050 “seremos” 9 bilhões.

Essa numerologia logo traz à tona a velha discussão sobre segurança alimentar para toda essa gente nova que se soma aos “outros”, nós todos que aqui já estávamos. Aliás, essa conversa é antiga, e desde as ideias superadas de Malthus anima discussões recorrentes.

Sabe-se que esse tema tem solução clara na área tecnológica: é possível aumentar a produtividade agrícola por hectare, e temos demonstrado isso à exaustão, mas não se pode descartar a incorporação de novas áreas, especialmente de pastagens degradadas, hoje somando mais de 40 milhões de hectares no nosso país, bem como áreas cobertas com alguma vegetação nativa, como cerrados e savanas.

Tudo isso é factível, com perfeita sustentabilidade. Mas isso agrega a importante temática da preservação dos recursos naturais, especialmente o adequado uso da água. Nada muito fácil, mas, reitero, perfeitamente possível.

Por outro lado, a segurança alimentar não é só questão de aumentar a produção agrícola: 1 bilhão de pessoas vivem hoje nos países mais pobres, com menos de US$ 2 (cerca de R$ 3,60) por dia. Trata-se, portanto, de melhorar o poder aquisitivo desses homens, mulheres, crianças e idosos que estão à margem do mercado.

Nesse ponto, é fundamental compreender as demandas também de bilhões de pessoas dos países emergentes que vão chegando a padrões de consumo mais elevados, exigindo melhor alimentação e melhores condições de vida, o que inclui energia, educação, saúde, habitação, vestuário etc. E tudo tem de caber nos limites do planeta, sem destruí-lo e sem piorar o já conhecido problema do aquecimento global.

Construir esse equilíbrio indispensável para o futuro da vida em todos os níveis é a grande tarefa que se apresenta à inteligência humana. Nossa ação hoje é o plantio que nossos netos e bisnetos colherão.

Novas formas de organização social, empresarial e política precisam ser analisadas e criadas, numa corrida contra o tempo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O desafio é mudar e reconfigurar os modelos de produção e consumo.

Pois é nesse cenário provocativo que o Brasil sediará no Rio de Janeiro, no ano que vem, um monumental evento mundial, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, já denominada de “Rio + 20”, em referência à “Eco-92”, ou “Rio-92”, realizada em 1992 na mesma cidade.

Isso acontecerá de 28 de maio a 6 de junho, com a presença de dezenas de chefes de Estado e de governo dos países-membros da ONU.

Dois grandes eixos temáticos nortearão as discussões nesse evento:

1) a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável, da erradicação da pobreza; e 2) a governança internacional para o desenvolvimento sustentável.

O Brasil está se preparando para fazer um belo papel e o governo federal editou um decreto (nº 7.495, em 7 de junho passado) criando as equipes que coordenarão nossa participação.

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento participa desse time e já vem trabalhando com afinco para marcar posição destacada, realizando reuniões seguidas com expoentes da academia especializada e lideranças das cadeias produtivas do agronegócio.

O trabalho compreenderá, entre outros tópicos, a competição equitativa e equilibrada entre países produtores de alimentos, índices de sustentabilidade, legislação ambiental, multifuncionalidade da agricultura (que também considera os serviços ambientais), variações climáticas, tecnologia e inovação, o programa ABC etc.

É preciso trabalhar firme, até mesmo na conceituação dos temas todos, porque os interesses em jogo, inclusive comerciais globais, são gigantescos. E ainda tem gente que pensa que economia verde é plantar sem usar adubo químico.

ROBERTO RODRIGUES, 69, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Depto. de Economia Rural da Unesp – Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 14 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
John Gapper

fonte: folha de sp