O dossiê de candidatura do Rio-2016 tem 20 páginas dedicadas a finanças. Consultorias nacionais e internacionais foram contratadas para chegar ao custo estimados dos Jogos Olímpicos cariocas: R$ 28,6 bilhões.
Mas esse orçamento é classificado apenas como “referência” pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB). Segundo ele, a previsão oficial de gastos para a competição só será conhecida daqui a mais um ano.
“Estamos na fase de projeto. Não dá para ter uma ideia de valores, até para não sermos cobrados depois. Dois anos após a conquista [dos Jogos] é que vamos saber o orçamento mais próximo do que será o real”, disse Paes.
Questionado posteriormente sobre o orçamento da candidatura, o prefeito afirmou que era apenas uma “base”, uma “referência”.
Defendeu ainda que não entende que essa nova estimativa de valores passe a impressão de estouro da previsão inicial, como ocorreu no Pan-2007, cujos gastos foram multiplicados por oito.
Para embasar o seu raciocínio, o prefeito declarou que em Londres-2012 o processo foi o mesmo, com orçamento oficial dois anos depois de definida a sede olímpica.
Em sua palestra, pouco antes da entrevista de Paes, o ex-primeiro ministro britânico Tony Blair reconheceu que é comum haver estouros de orçamento nos Jogos. Admitiu que isso ocorreu em Londres, ao ser questionado sobre a diferença entre o valor previsto na candidatura e o utilizado atualmente.
“Considerável [a diferença]. Variável. Difícil de contar. Ficaria surpreso se houver Jogos em que o orçamento foi igual do início ao final”, declarou o ex-premiê.
A estimativa inicial do custo de Londres era de R$ 6,4 bilhões. Dois anos depois, esse número foi revisto. Foi multiplicado por quatro e atingiu R$ 25,1 bilhão. A mídia inglesa tem noticiado que o valor deve ser maior.
Se o processo se repetisse no Rio, o gasto dos Jogos ultrapassaria R$ 100 bilhões.
Por enquanto, os valores citados por Paes e pelo governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), são mais modestos.
Os dois falam em folga no caixa de prefeitura e do governo, o que já permitiu o início dos investimentos, como os projetos de três corredores de ônibus pela cidade.
A prefeitura obteve US$ 1 bilhão do Banco Mundial. O governo do Estado aumentou a capacidade de seu endividamento, o que lhe permite empréstimos de R$ 2 bilhões em 2010 e possivelmente, R$ 2,5 bilhões no ano que vem.
O projeto olímpico inicial prevê o predomínio do uso de recursos públicos, sem precisar a fatia de cada esfera nesse total. Não é à toa que “o orçamento é a parte mais difícil e sensível” dos Jogos, segundo Blair.