Até camisa do Flamengo, cujo campo foi usado pelo helicóptero de Obama, foi considerada ameaçadora
JANIO DE FREITAS
COLUNISTA DA FOLHA
O segundo ato importante de Barack Obama no Brasil, sendo o primeiro sua conversa reservada com Dilma Rousseff, esperava-se ser o discurso público previsto para a Cinelândia e reduzido a discurso reservado a convidados no Theatro Municipal.
Se a plateia correspondeu ao privilégio do convite, com os aplausos apropriados, o papel de Obama não exige muito rigor para ser descrito assim: um discurso de churrascaria.
Salvou-se uma frase, talvez, pela retórica: “Quando se acende uma luz de liberdade, o planeta fica mais iluminado”. Ao que, dada a seleção dos convidados, não houve um maldoso que indagasse: “Por isso, tome de luzes com bombas e foguetes?” No mais, Barack Obama parece ter utilizado o ato no Municipal para oferecer uma síntese da motivação perceptível de sua visita: “Vejam como eu sou simpático”.
Para uma visita que devesse dar novo sentido às relações de Brasil e Estados Unidos, não por causa de duas ou três contrariedades causadas à Casa Branca por Lula, mas por sempre, a missão de Obama fez muito pouco. Se fez algo, não divulgado até agora das suas conversas com Dilma Rousseff.
Do que se sabe, o melhor ficou com a presidente. Pela objetividade com que destacou, já que o palavrório visitante tanto se referia a relações de colaboração, o tratamento prejudicial dado pelo governo dos Estados Unidos a um punhado de produtos da exportação brasileira (tratamento discriminatório mesmo em desobediência a julgamento da Organização Mundial de Comércio).
A frase mais repetida a respeito de Barack Obama, nos meios de comunicação brasileiros, é a que o define como “o homem mais poderoso do mundo”. É possível.
Mas a suave Patrícia Amorim -uma lição feminina de como dirigir com honestidade e competência um grande clube de futebol- não poderia sequer presentear Obama, cujo helicóptero usou o campo do Flamengo, com uma camisa do time.
A “segurança” de Obama tinha considerado a camisa tão ameaçadora quanto uma pessoa ter qualquer coisa na mão, ao se aproximar do presidente. Patrícia foi vestida com a camisa.
É o homem mais poderoso ou o mais frágil? (Em tempo: Patrícia Amorim não respondeu, como poderia, que, se a camisa e mesmo ela são tão perigosos, Obama que baixasse em outro lugar, não mais no Flamengo).
O pior da “segurança” em proporções estúpidas é que os locais a tomam como eficiência em nível máximo e exemplar.
Há anos, se um avião com o presidente brasileiro está em voo, o tráfego aéreo é alterado, como se também aqui o avião presidencial estivesse sob risco de ataque da Al Qaeda.
De uma visita que fez tantos esperarem tanto, com as pretensas antecipações de numerosos tratados, o “esquema de segurança” foi o que mais atraiu atenção.
E, claro, a simpatia do casal. À qual o “glamour” da jovem senhora dá, esta sim, uma boa segurança.
Fonte: Folha de São Paulo