VENCESLAU BORLINA FILHO
DE SÃO PAULO
PRESIDENTE DA MONTADORA CHINESA JAC NO BRASIL DEFENDE REDUÇÃO DO IPI PARA VEÍCULOS, “COMO LULA FEZ NO PASSADO”
Se o governo brasileiro não adotar nenhuma medida específica, o setor automotivo não vai crescer em 2012, ou vai crescer só de 2% a 3%, afirmou à Folha o presidente da montadora chinesa JAC no Brasil, Sérgio Habib.
Ele defende que a presidente Dilma Rousseff adote uma nova redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o mercado, assim como fez seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, no último mandato.
Em entrevista à Folha, o executivo fala sobre as perspectivas de retomar a participação de 1% no mercado em 2012, sobre o aumento do IPI para carros importados e sobre a indústria de autopeças.
Dono de 93 concessionárias das marcas JAC, Citroën, Jaguar, Aston Martin e Volkswagen, Habib começou como importador. De 2001 a 2008, presidiu a Citroën no Brasil.
Folha – Qual será o comportamento do setor automotivo brasileiro em 2012?
Sérgio Habib – Se o governo brasileiro não adotar nenhuma medida específica, o setor automotivo não vai crescer em 2012, ou só vai crescer de 2% a 3%. A medida específica é o que o governo Lula fez no passado, que foi a redução de IPI. Se não fizer uma medida específica, o mercado não vai crescer.
Agora, o governo liberar financiamento não adianta nada se o banco não liberar por ficar com medo da inadimplência. Como a inadimplência subiu, os bancos estão restringindo as fichas [financiamentos].
A JAC foi responsável pelo aumento do IPI para carros importados?
Falar que a JAC foi responsável pelo aumento do IPI é um pouco pretencioso. O que eu diria é o seguinte: nós incomodamos o mercado.
Agora, o aumento do IPI foi uma medida desnecessária. A importação total dos carros chineses está em US$ 400 milhões no ano. Já a remessa de lucros [das montadoras nacionais para os países de origem] foi de US$ 4 bilhões no mesmo período.
Qual é a sua crítica sobre a medida do governo de elevar o IPI para importados?
Se tem uma coisa muito chata e desagradável empresarialmente nessa medida é que ela mudou as regras do jogo no meio do jogo. Há dez anos o Brasil não mudava as leis de comércio exterior tão profundamente sem aviso prévio. Você tem centenas de brasileiros que investiram muito dinheiro na rede de concessionárias de carros importados e que foram surpreendidos pelo anúncio.
A economia do Brasil acabou de passar a da Inglaterra. Um país como o nosso, do tamanho que tem hoje, não precisa mudar a regra no meio do jogo.
O que você espera do novo regime automotivo prometido pelo governo?
A gente precisa de um período de transição, para importar veículos com o IPI antigo enquanto a fábrica está em construção. Sem esse prazo, não consigo montar uma rede, que é mais caro do que uma fábrica.
Todas que estão aqui, nos últimos 20 anos6, como Honda, Toyota, Peugeot, Nissan, Mitsubishi, começaram importando carro, montaram a rede e depois a fábrica.
Mas vai ter que cumprir a exigência de conteúdo nacional mínimo de 65%.
É impossível lançar um carro com 65% de [conteúdo] nacional. O correto é ter uma fábrica e ir subindo 30%, 40%, 50%. Um carro tem dez mil componentes. É impossível acertar 5 mil no Brasil. Agora, o que vai sair eu não sei. Eu nem sei quando.
O aumento do IPI afetou as vendas no primeiro ano da JAC no Brasil?
O que aconteceu com a JAC no Brasil no primeiro ano foi que a nossa estimativa de vendas era 30 mil [veículos]. Vamos fechar mais ou menos com 26 mil carros.
Antes da publicação do IPI, a gente tinha 1% do mercado. Agora temos 0,7%. Isso perturbou um pouco o mercado e acredito que vamos voltar a 1% nos próximos meses.
Qual foi a sua avaliação sobre o primeiro ano?
Em janeiro e fevereiro, quando se falava em JAC para contratar vendedor, para ir na TV Globo, para falar com investidores, rede de concessionárias, ninguém sabia o que era. Nos nossos primeiros oito meses no Brasil, a coisa mais importante é que agora quando se fala de JAC Motors no Brasil, muita gente sabe o que é.
Como foi posicionar a marca para o consumidor brasileiro?
A colocação da marca no Brasil foi excelente nos primeiros oito meses. A contratação do Faustão [Fausto Silva, apresentador de TV] foi determinante no nosso sucesso. Além disso, gastamos neste ano R$ 120 milhões em marketing, em visibilidade.
fonte: folha de sp